Cinema

O filme já tinha acabado. O ecrã mostrava os nomes de cordenadores de filmagens e técnicos de som. A música já tinha acabado. Eu estava já sozinho na sala, a pensar. A pensar no que já tinha acabado. Era tanto e é tão pouco. Começava-me a lembrar dos seus olhos tristes que me olhavam com tão pouco tristeza. Os seus lábios que riam e falavam numa epopeia gloriosa. Os seus lábios que diziam Hoje sou mais feliz do que a felicidade porque estou contigo, porque agora sei o que é amar alguém. Os seus lábios que diziam beija-me. Os seus lábios que hoje disseram adeus.Os seus olhos tristes nunca me irão olhar com tão pouca tristeza outra vez. Os seus lábios nunca mais me dirão beija-me outra vez.Eu perguntei porquê. Porque tem que ser. Ela beijou-me como se fosse a primeira vez. Eu beijei-a como se fosse a última.Os seus olhos tristes olharam-me com tanta tristeza, como se dissessem adeus amor. Virei-me para trás e fugi. Não quis vê-la ir embora. Foi aqui, neste cinema, quando o filme já tinha acabado, quando a música já tinha acabado, que eu a beijei pela primeira vez. Foi aqui, neste cinema que eu lhe disse amor pela primeira vez. É aqui que eu nunca mais lhe direi amor.