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Ah ok

O sítio onde me beijas -aqui, no ombro esquerdo ainda não dói beija-me outra vez

domingo, abril 16, 2006

Não é perigoso confundir crianças com anjos

-Como te chamas?
-Os anjos não têm nome, senhor.
-És um anjo, meu filho?
-Acho que sim, senhor. Talvez uma criança...Puz essa hipótese de lado por não ter nome.
-Eu chamo-me Ignácio Kagel.
Eu e o rapaz estavamos à espera do autocarro. Não está assinalado a existência de uma paragem. Todos os dias param vários autocarros naquele lugar. As pessoas habituaram-se a isso.
Não sei porquê, mas o rapaz parecia dizer a verdade. Eu achei que ele era mesmo um anjo. Ele parecia mesmo um anjo.
-O que fazes? No dia-a-dia.
-Eu sorrio, Sr. Kagel.
-Sorris?
-Sim. Há quem me pague para sorrir.
-Não vais à escola?
-Não. Eles só aceitam rapazes e raparigas. Eu nem nome tenho.
-Então, apenas sorris?
-Também canto e toco violino em telhados. Hoje em dia já ninguém precisa de de músicos em telhados. Os melancólicos ainda me pedem às vezes. No geral, as pessoas precisam é de anjos a sorrir, Sr. Kagel.
-Podes sorrir para mim?
-O senhor está triste?
-Não, mas talvez o teu sorriso me faça eufórico.
-Escreva-me um poema.
Mas o autocarro chegou. O rapaz não subiu, estava à espera do próximo autocarro. Não o voltei a ver.
20/08/1882
O texto acima ,foi retirado do diário de Ignácio Kagel. Todos os outros textos se resumem a textos normais para um barbeiro com era o Sr. Kagel. Estão descritos algumas zangas com a sua mulher, o divórcio. Alguns relatos das suas relações sexuais com a mulher que limpava a barbearia. O que sentiu quando o seu melhor amigo morreu num acidente de viação. É, portanto, muito provável, que este texto não seja fictício. É, portanto, muito provável, que este seja um relato real do seu encontro com um anjo.