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Ah ok

O sítio onde me beijas -aqui, no ombro esquerdo ainda não dói beija-me outra vez

segunda-feira, abril 10, 2006

Ponte

-Não é que eu seja feio: Tenho apenas um ambiente estranho
Disse Mário ao seu cão, quando o levava à rua
(lusco-fusco)
na ponte. Naquela altura do dia não lá estava ninguém
(nada)
e Mário Otnas gostava de lá ir todos os dias
-O lusco-fusco faz o tempo perceber Monet
e foi naquela tarde que começou a perceber, que o rio não é apenas água. O rio é tinta de pinceis diluida. Um verde, um azul. Violeta e laranja. É aquele frasco de salsichas
(O autocolante "Nobre" já saiu, restando apenas as marcas de cola)
ondem se limpam os pinceis. Um barco de madeira com fungos e tinta descascada.
-Não é que eu seja feio: tenho apenas um ambiente estranho
com as mãos atrás das costas e uma calvice crescente
-Actualmente, o meu cabelo já só ocupa as patilhas e nuca.
Mário Otnas não era feio
-Sempre tive facilidade em arranjar namoradas. Pelo menos até à dez anos.
apenas tinha um ambiente estranho. Aos poucos, tornou-se tímido e comecou a falar apenas de material de poesias. A última frase que dirigiu à mulher provocou o divórcio
-Tirando eu, já ninguém se lembra da invasão dos anjos sem asas.
-Mário, essa foi a gota de água.
Nunca mais teve uma relação com uma mulher. Na verdade, deixou te falar com os amigos. Deixou de falar com as pessoas no geral. ele dizia que
-As pessoas não percebem. As pessoas nunca perceberam.
quando se olha ao espelho percebe a diferença entre ele e os outros. Ele é pessoa de vinyl e gira-discos.
-O "Anything Goes" do Cole Porter.
Aquele ambiente de gorro preto e charuto, jazz que lê Keats. Jazz de lusco-fusco na ponte.