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Ah ok

O sítio onde me beijas -aqui, no ombro esquerdo ainda não dói beija-me outra vez

sexta-feira, maio 05, 2006

A utopia do sonho é a utopia da realidade (4)

Nessa noite, desse dia, adormeci. Adormeci e estava sentado à beira-rio. Sentado em pedras, reais. As pedras eram reais. O rio corria nos meus pés. A água era água com estrelas e sol imbutidos. As estrelas estavam misturadas com os peixes. O sol não se misturava com nada. A água era aquela felicidade irracional de ouvir uma música de amor.
(não há nada de racional nas músicas de amor)
Eu estava sentado em pedras
(reais)
e ela também. Não mesmo ao meu lado: talvez a uns três metros.
(para a direita)
-Olá
-Olá
-Nem te despediste de mim. No outro sonho.
-Os meus vizinhos acordaram-me. desculpa. Estavas a explicar-me quem eras.
-Já tinha acabado. Não te posso dizer mais nada. Posso-te dizer que não sou real. Não da mesma maneira que tu és.
-Não faz mal.
Ela sorriu com os lábios e as sobrancelhas: intrigada
-Então e como é que te chamas.
-Eva.
-É bonito
-É um nome.
Nos sonhos tudo é diferente, nada é racional. Aquilo que não interessa não existe e o sol, às vezes, fica verde-alface.
Nada é racional, tudo é disparatado. Não há regras.
Eu beijei-a. Ficaram por acontecer todos os momentos e o tempo. Eu não lhe telefonei só para ouvir a voz dela, não lhe deixei músicas de amor no voice-mail. Não fomos ao cinema, não demorei uma hora a preparar-me, não existiram rosas, nem cravos, nem cd's com músicas romanticas, nem sequer sorrisos comprometedores. Mas nos sonhos nada é racional, tudo é disparatado e o sol, às vezes, fica verde-alface.
Eu beijei-a e abracei-a e foi diferente da realidade. Talvez mais real. Eu senti os seus lábios como senti os meus e um arrepio na espinha. Um som agudo e o meu coração deixou o ritmo habitual: começou a tocar piano. O ar estava duro e os meu braços não conseguiam tocar nas suas costas. Para algumas coisas, as palavras não são suficientes. As palavras são poucas
(demasiado poucas)
para explicar músculos que não se mexem no ar que não compreende um abraço. Ela sentiu que:
-Até amanhã.
-Até.

Numa de Snow patrol-open your eyes