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Ah ok

O sítio onde me beijas -aqui, no ombro esquerdo ainda não dói beija-me outra vez

terça-feira, outubro 10, 2006

Sobre a morte e sobre os sonhos

De manhã, Eduardo acordou com a respiração dos outros. Com o incessante barulho daquilo que se passa nas ruas.
De manhã, Eduardo acordou no seu pequeno apartamento. Ele olhava em volta como que tentando ter a certeza se aquele era o seu apartamento. Como quem acorda num sitio onde nunca acordou. As paredes e os lençois estavam difusos por um sentimento de inquietação residente na atmosfera. Um sentimento negro de um medo sujo.
Lentamente, Eduardo levantou-se, com medo que a sua brusquidão pudesse derrubar este lugar
(que parecia o seu apartamento e talvez fosse)
Ele reconhecia as fotografias nas paredes. O bisavô fardado e de bigode retorcido. A mãe quando usava o cabelo apanhado atrás e o pai quando ainda era magro. Ao lado, Lolita, a única pessoa que consegue lamber o cotovelo e sua namorada
(até ir para a rússia num Outono antigo)
No entanto, pareciam outras fotografias. Com cores mais frias. A mãe parecia estar fotografada de um ângulo diferente. Lolita também.
As fotografias pareciam mais enevoadas. O mundo parecia mais enevoado. Como se tivesse perdido definição.
Eduardo
-Mas que merda é que se passa.
estava confuso. Continuou confuso, mas ainda assim teve de arranjar uma explicação. Algo como
-O tempo está horrível.
e foi a primeira vez que Eduardo arranjou uma explicação à força. Mas não teve outra opção. Aceitou a sua explicação
(teve que ser)
e foi tentar não chegar tarde ao emprego.