A floresta em sua casa
“A verdade começa sempre na mentira”
Dr.House
Eu estava delirante com o quadro. Custou-me uma fortuna. Trouxe-o para casa. Pu-lo no topo da lareira e observei-o durante horas. A selva não era só a selva, mas aquele nervosismo de quem está sempre em perigo. Como se cada planta respirasse ofegante. Cada pássaro, cada chimpazé. Cada animal tinha os olhos arregalados, aterrados. Eles pediam-me ajuda. As riscas das zebras estavam rosa. Sentei-me no cadeirão de camurça, sempre a olhar o quadro. Não sei se adormeci. Talvez tenha desmaiado, talvez tenha morrido por momentos. Quando acordei, estava sangue no chão. Uma das zebras tinha morrido. O seu cadáver estava deitado junto à lareira. Dilacerada. Pareciam marcas de garras. Os outros animais estavam agora ainda mais assustados. Eu percebi que tinha de fazer algo. Mesmo que fosse a lei da selva, não podia deixar que existisse uma chacina na minha sala. Comprei armadilhas para animais. Não sabia qual era. Minei a sala com redes e todo o género de engenhos avançados. Empunhei uma faca grande e escondi-me atrás do cadeirão de camurça. Comprei-o num leilão por três mil e novecentos dólares. Esperei que algum animal atacasse. Horas passaram e o quadro parecia apenas um quadro. A imagem estava fixa, o vento não fazia as plantas mover. Eu não conseguia ouvir a respiração apressada das iguanas. Comecei a pensar que tinha imaginado tudo. Comecei a pensar que o meu psiquiatra tinha razão. Até que apareceu o meu filho. Inocente, olhava para a tela. Estava assustado. Chamava pelo irmão. Coitado. Entrou na sala um leão. O meu filho: um leão. Era ele então. O assasino. Pensei
-Não vou conseguir fazer isto. Não vou conseguir matar o meu próprio filho.
As taínhas olhavam-me de tal maneira...tive pena delas. Mesmo sendo o meu filho, era um assassino. Quem seria a seguir? A minha mulher? Eu não poderia deixar isso acontecer. Matei-o naquela noite, com a minha faca. Quando o matei, senti alívio. Tudo aquilo tinha acabado. Quando estava na casa de banho, a lavar a faca, vi que estava um macaco empoleirado no candeeiro. Estava assustado. Comecou a murmurar algo. Não conseguia perceber o quê. Aproximei-me dele.
-Vamos todos morrer.
Mas eu já tinha matado o leão. Não havia nada a temer. Fui-me deitar, junto à minha mulher. Estava seguro agora. A nossa vida ia continuar. Tentei adormecer, mas estava uma zebra aos pés da cama.
-Vamos todos morrer.
A minha mulher. A minha mulher era um leão também.
-Vamos todos morrer.
A faca...onde está a faca.
-Vamos todos morrer.
Oh meu deus.
Numa de Editors-lights
1 Comments:
talvez se possa ir pro msn agora que pronto.
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