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Ah ok

O sítio onde me beijas -aqui, no ombro esquerdo ainda não dói beija-me outra vez

quinta-feira, fevereiro 16, 2006

Banco de jardim (o início)

Tenho pensado muito em ti
Na maneira como o teu sorriso me deixava feliz. No que eu fazia para tu sorrires. Estou agora sentado no banco de jardim e lembro-me de ti. Apenas porque nos sentámos neste banco. Apenas porque vivemos um pouco mais neste banco. Porque foi neste banco que escreveste um poema. Disseste que era para mim. Escreveste-o no assento de madeira com o teu porta-chaves/canivete suiço.
"Por um momento disseste os teus olhos castanhos são feitos de restos de estrelas
Por um momento, apenas um momento
disseste os teus lábios são tudo aquilo que impede os nossos corpos de se unirem num só
e o momento durou um pouco mais"
Já não consigo ler o poema, escrevi-o de memória. No entanto a memória parece-me mais real que a minha vida hoje. Já não consigo ler o poema, escrevi-o de memória. Apenas porque quando tento, sinto o teu cheiro. Impossível de descrever. Mais ninguém poderia cheirar assim. Era um cheiro indicado para ti. Perfume? Nunca um perfume poderia ter o teu cheiro. Como se anjos tivessem feito amor. Cheiravas ao amor dos anjos, talvez seja o mais aproximado. Ao mesmo tempo tão virginal e tão incrivelmente sensual. Às vezes aproximo a cara deste banco, apenas para tentar senti-lo. Apenas para tentar sentir o teu cheiro, entranhado na madeira. Porque quase que juro que sinto.Porque quase que juro que ainda consigo ver a marca que o teu corpo fez na madeira. Não pelo peso, mas pelo uso. Pelo hábito.
Ás vezes, fecho os olhos e imagino-te sentada neste banco. Da maneira como te sentavas sempre. Algo tão teu (marca registada) que nunca ninguém conseguiria imitar. No entanto, tão natural em ti. Como se estivesse apoiada numa almofada invisível. Sentavas-te torta, mas com orgulho. Usavas umas t-shirts demasiado curtas. Nunca gostei de as ver nas outras pessoas. E apesar de gostar em ti, disse-to muitas vezes.
-Rapariga, com essas t-shirts não deixas nada para adivinhar.
-Não quero ver ninguém a tentar adivinhar-me.
Mas ficavam-te bem. Tinhas ombros largos e seios grandes, mas eras magra de cintura. Não tinhas um grama a mais. E quando tinhas, ninguém se atrevia a dizer-to. Tu não te preocupavas com quilos a mais. Nunca fizeste uma dieta marada. No entanto, se alguém fazia qualquer referência ao teu peso, não lhe falavas durante dias. A tua mãe fazia-te constantemente, de uma maneira sempre demasiado directa.
-Estás gorda, come menos.
Nunca estavas, ao contrário da tua mãe. Mas ela parecia ter este prazer em dizer-to.
As tuas pernas sim, eram um pouco largas. Eu, na verdade, nunca as quis diferentes. Queria-as exactamente como eram.
Usavas um elástico no cabelo. Quando o usavas, fazias como uma flor com o cabelo. Como se tivesse petalas. Como se tivesse folhas. Algo acontecia no teu cabelo. Algo que nunca pertenceu a este mundo, e ao qual apenas eu dava importância.