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Ah ok

O sítio onde me beijas -aqui, no ombro esquerdo ainda não dói beija-me outra vez

quarta-feira, janeiro 25, 2006

Verosímel (12)

No final das férias voltámos para Portugal. Apanhámos o primeiro voo da manhã e ainda conseguimos ver o nascer do sol lá em cima. Aterrámos ás dez da manhã no aeroporto de Lisboa. Apercebi-me que durante todas as férias não tínhamos discutido. Nem sempre concordámos, claro, somos pessoas diferentes. Eu sempre achei as tuas opiniões adoráveis, mesmo quando não concordava. Mesmo quando os nossos pontos de vista eram sobre marcas de iogurte, eu ficava maravilhado com o teu ponto de vista. Conciliámos sempre os nossos gostos. As nossas ideias sobre a ressureição e a liberdade filosófica. Nunca discutimos. Nunca te chamei nomes e nunca te pedi desculpa. Fomos de táxi até ao nosso prédio. No cimo das escadas estava o teu pai.
-Se calhar já é altura de tu falares com ele.
-Pois é...acho que tens razão.
-Vem ter comigo a casa quando acabarem.
Esperei em casa e contei os segundos. Estavam lá o André e o Daniel e eles foram tentando distrair-me. Perguntaram-me como tinha corrido a viagem. Não me lembro se respondi. Estava apenas a pensar na tua conversa com o teu pai. Secretamente sabia que depois desta conversa era difícil continuares a viver cá em casa. Eras menor e ele era teu pai. Irias viver para a casa do lado e o nosso tempo juntos como tinha sido até agora iria acabar. Eu sei que o que nós tínhamos era anormal: quantos namorados com a nossa idade é que vivem juntos? Mas a verdade é que já me tinha habituado e estava nervoso.
Chegaste a casa tarde
-Vou-me embora.
-Pois, eu imaginava. Mas não te preocupes podemos continuar a ver-nos- Afinal, a casa do teu pai é aqui ao lado.
-Não estás a perceber. O meu pai não quer saber de mim. Não vou para casa dele. Vou para casa da minha avó e do meu avô. Onde vivi quando era pequena, tinha uma bicicleta e um cão.
Perguntei a mim próprio porque é que tive de te contar a história da infância com os avós. Eu sabia que as minhas histórias tornam-se por vezes reais, mas mesmo assim não podia evitar um sentimento de dejá vu.
-Tem mesmo que ser? Não podes ficar conosco?
-Não, infelizmente não. O meu pai passou a minha custódia para a minha avó. Eu gosto muito dela, mas...não há nada que possamos fazer.
Vi-te fazer as malas e ires-te embora. Quem te levou lá foi uma amiga do teu pai.
Telefonei-te no dia seguinte. Para perguntar como tinha corrido a viagem e como estavas. Queria ir visitar-te. Atendeu um senhor.
-Boa tarde.
-Boa tarde, queria falar com a Teresa.
-Quem fala?
-É o namorado...podia passar-lhe o telefone? Ou se não lhe der jeito posso ligar mais tarde.
-Tenho imensa pena mas a sua namorada morreu num acidente de carro ontem. Aqui é da esquadra da polícia. Só ela é que morreu. Estava sem cinto...
Desliguei o telefone. Foi nesse mesmo dia que comecei a escrever esta história. Comecei a escrever a nossa história. Quis que nunca te esquecesses de nós. Quis que nunca fossemos esquecidos. Escrevi em segredo e não mostrei a ninguém. Quando eu parar de escrever nós não vamos deixar de desistir.

Adeus
P.S. Estou com os blues de ti e dos teus lábios.
Valentine