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Ah ok

O sítio onde me beijas -aqui, no ombro esquerdo ainda não dói beija-me outra vez

segunda-feira, janeiro 09, 2006

Verosímel (4)

Ainda estavas no quarto, triste. Eu peguei no meu casaco e pu-lo debaixo do braço.
-Queres vir dar uma volta pelo jardim? Só para desanuviar.
-Oh, claro. Gostava muito.
Sorriste sem vontade. Sem vontade porque estavas triste. Sem vontade porque não era possível ficares feliz naquela altura. Puseste um cachecol á volta do pescoço e entraste no elevador sem olhar para mim. Eu tentava não olhar para ti. Tentava mesmo, mas não conseguia evitar os teus lábios. è verdade que tinhas uns olhos e um nariz bonitos. Mas quando os teus lábios estavam lá o resto não interessava. Quando tu passavas a língua neles. Lábios azuis como uma pintura de Bilal. Tu dizias que era do frio. Tu dizias que reagias assim desde que nasceste. Eu ainda agora acho que era magia. Uma maldição bastante estética. Quando fomos passear perguntei-te porque tinhas os lábios azuis. Nessa altura sorriste com vontade. Como se esta frase te fizesse lembrar como as árvores são bonitas sem folhas e como as luzes da cidade á noite ficam mágicas. Disseste "Eles são vermelhos. É do frio que está hoje". Na altura acreditei em ti. Realmente estava frio. Mas no verão os teus lábios eram da cor dos meus sonhos. Porque os meus sonhos sempre tiveram cor: azul pouco escuro (escurinho). Índigo. Os teus lábios eram dessa cor. Como se os meus sonhos soubessem que te ia conhecer. Naquele dia sentámo-nos em pedras e conversámos. Querias ser actriz e gostavas de comida italiana. Eu queria ser pintor e era mais japonesa. Não dissemos nada filosófico nem citámos oscar wilde. No entanto a tua comida italiana será sempre mais importante que as noções abstractas de destino e liberdade. Na volta para casa lembraste-te que o teu pai estava no emprego e foste buscar as tuas coisas.