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Ah ok

O sítio onde me beijas -aqui, no ombro esquerdo ainda não dói beija-me outra vez

segunda-feira, dezembro 19, 2005

Heartbeats

Dei um concerto num pequeno bar, numa pequena vila. Estava quase vazio. Um casal nos seus 70 anos encontra-se sentado na mesa. Pareciam namorados de liceu, a quem não olhasse com atenção. O senhor estava a dormir. A senhora, sem notar, ouvia-me a cantar atentamente.
Noutro canto encontrava-se um homem, de meia idade sozinho. Olhava para o copo de cerveja. De cinco em cinco minutos, abanava-o, depois bebendo um trago.
Versões apenas, o meu talento não justifica mais que isso. Piano e voz. Cada vez é mais comum. Cantei várias músicas, desde Coldplay até Billie Holliday.
Antes da última música, entrou no bar uma rapariga de cabelos loiros. Estava escuro e eu pouco via dela.
A última foi de Ryan Adams. Só por si uma versão da wonderwall, dos oasis. Soberba. Para além de que é quase só piano, o que ajuda bastante.
Olhei para a rapariga enquanto cantava a música. Olhei para ela e ela olhou para mim. Ela tinha-se sentado num lugar iluminado e pude então ver a sua cara. Lábios finos e olhos verdes. Uma rapariga de cabelos loiros, que mais se pode dizer. Vestida com uma blusa rosa de manga curta. Uma saia pouco abaixo dos joelhos. Branca. Uma rapariga de cabelos loiros, que mais se pode dizer. Pode-se dizer que estava a olhar para mim com deleite. Sorria só com um canto da boca.
Mal acabei ela dirigiu-se ao palco.
-O meu nome é Teresa.
-Pedro.
-Nunca te tinha visto cá.
-É a minha primeira noite.
-Gostei muito dem te ouvir cantar. Cantas muito bem.
-hum...obrigado.
-És de cá?
-Acabei de me mudar. Fiquei com o lugar de professor de Arte na escola primária local.
-Oh, a serio? Isso é muito porreiro. É bom conhecer gente da nossa idade. Cá não há muita.Mais importante, as que há não cantam como tu.
Sorri, envergonhado. Quem não ficaria. Incrível a rapariga. Apenas tão simpática como seria humanamente possível. Sempre gostei de elogios, tenho que admitir.
-Então e tu, estudas...trabalhas?
-Estudo. Estou no 12º em humanidades. Estou a pensar em seguir jornalismo.
-Porreiro.
-Ah, onde é que estás a ficar?
-Na verdade, ainda não sei. Por hoje dormiria no meu carro. Amanhã ia alugar um quarto por aí.
O dono do bar, com as chaves na mão tossiu propositadamente. Pelo olhar dele, devia estar com vontade de fechar o bar. Fiz-lhe um gesto com a mão, pedindo desculpa e dirigimo-nos para a rua. Abotoei o casaco de penas, ficando a olhar para o vapor de água que saía da minha boca. Estava frio.
-Queres ficar em minha casa? Não há problema nenhum, o meu pai foi de viagem e só volta para a semana.
Ia negar o convite quando ela me interrompeu. Com o mesmo sorriso com um canto da boca que me tinha dirigido antes, prossegiu:
-Só enquanto não arranjares quarto. Não te poderia deixar a dormir no carro!
-Obrigado...-Ela sorriu com todos os dentes-...quando encontrar um quarto eu saio, prometo.