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Ah ok

O sítio onde me beijas -aqui, no ombro esquerdo ainda não dói beija-me outra vez

quarta-feira, janeiro 04, 2006

Verosímel (1)

Foi num ano particularmente longo, dez anos atrás. Tinha quize e entrei para um liceu novo. Conhecia dois amigos, os meus melhores, o Daniel e o André. Desde que me lembro, passava sempre todos os intervalos com eles. Falavamos de música quase exclusivamente. Falavamos de uma maneira única, que nunca mais ninguém conseguiu (também duvido que o quisessem). Nós discutíamos música como quem discute motores de carros ou materiais sintéticos. Era sempre a mesma discussão: R.E.M. contra QUEEN. Eu defendia os R.E.M., claro está. Todos os dias (Talvez não todos, mas muitos de certeza) trazíamos papeis que comprovavam que a nossa favorita era a melhor. Desde folhetes com o número de espectadores nos concertos até capas de revistas que declaravam coisas como: "R.E.M., a maior banda do séc. 20" ou "Queen, os inspiradores do rock". No novo liceu nunca mais fizemos nada destas coisas. Falavamos de música, claro. Até falavamos de Queen ou R.E.M, pois as raízes nunca se perdem. No estanto, sempre que um deles dizia "hoje dá um documentário sobre os Queen na VH1, eu acabava por responder, apaticamente, "ai é?". As nossas conversas começaram a resumir-se a raparigas, cada vez mais. Passámos a viver os três numa casa da tia do Daniel. Ela estava poucas vezes. Fins de semana e umas sextas á tarde. A casa foi claramente desperdiçada em nós. Nunca gostámos de fazer festas nem queríamos multidões de adolescentes bêbados a destruirem os sofás. Na verdade passavamos as tardes livres (todas menos quarta) á frente de ecrãs. Televisão, cinema, computador. Ás vezes íamos beber café para uma esplanada. No inverno, o café era substituido por cacau quente. O início das aulas foi calmo. Tirando aquela sençacão de medo nas pontas dos dedos, sempre que via um dos matulões do 12º. A minha turma era porreira. Tirando o Daniel e o André começámos a dar-nos com um rapaz chamado Ricardo. Usava sempre camisa de quadrados, um casaco de malha com a gola em v e calças de algodão vermelhas. Os óculos dele eram redondos e grandes. Ele vinha para nossa casa á tarde e ficava a ver televisão ou a jogar consola conosco. O André apaixonou-se por uma rapariga chamada Joana. Ele sempre teve a mania de se apaixonar por pessoas que mal conhecia. A quem tinha dito olá uma vez, e foi amor á primeira vista. Na verdade, nunca tentou nada com ela. Sempre foi muito envergonhadado para isso. Eu não o censuro, também tinha esse problema. O Daniel era diferente. Ele apaixonou-se por uma rapariga com quem realmente falava. Infelizmente ela já tinha namorado. Mas sempre podia ter mais esperança.
Eu demorei mais tempo a apaixonar-me. Pensava bastante sobre o assunto, é verdade. No entanto, não conhecia ninguém que me encantasse.