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Ah ok

O sítio onde me beijas -aqui, no ombro esquerdo ainda não dói beija-me outra vez

quinta-feira, janeiro 05, 2006

Verosímel (2)

Era Outubro e estava já bastante frio. Acordei com o barulho assustador do meu despertador. Fui acordar os outros dois e passado dez minutos estavamos a caminho da escola. As aulas foram fáceis nesse dia. Português, desenho e inglês. Acabaram ás 1.15 e viemos para casa. Quando chegámos á porta disse-lhes para irem subindo. Apetecia-me ficar cá fora, sentado numa pedra, a ver as árvores. Estava triste. Por nada de especial. Talvez até sem razão. Junto ás árvores que eu observava, apareceste com o teu cão. Eras um pouco mais nova que eu. Combinavas com a paisagem. Encaixavas de alguma forma. O cão não abanava a cauda nem tentava correr. Ficava simplesmente parado. Parado, a respirar. Como se as árvores e as folhas secas no chão respirassem com ele, em uníssono.Tu olhavas o cão desinteressada. Pensando em algo. Ás vezes penteavas o cabelo castanho para trás das orelhas, para depois com um movimento de cabeça o voltares a por no lugar. Tudo ficou, apenas existindo por um tempo limitado. Curto demais. Sem qualquer aviso foste-te embora e entraste no meu prédio. Eu entrei a seguir a ti e disse boa tarde. Dirigiste-me um sorriso estranhamente aberto. Como se não fosse apenas cortesia e sim alegria genuina. Rapidamente te apercebeste disso e olhaste para o elevador. Abri-o e deixei-te passar como sempre fazia. Apenas nesse momento consegui ver a tua cara como passei a ver sempre. Eras linda. Por acaso é uma palavra que te pode descrever quase perfeitamente. Eras linda. Na altura tinhas 14 anos, no entanto encantaste-me mais que todas as raparigas da minha turma, da minha idade. Há bastante tempo que ninguém me conseguia fascinar como tu e percebi que devia tentar conhecer-te:
-Moras aqui no prédio?-eu nunca fui bom a fazer conversa.
-hum...moro. No 7º.
-Olha, eu também. Mudei-me á pouco tempo com os meus amigos. Para podermos vir para o liceu.
-Deve ser engraçado.
-É bastante. Se precisares de alguma coisa podes ir lá bater.
-hum claro, obrigada.
-Não tens de quê.
O elevador parou e cada um se despediu com um sorriso. Tinha acabado de ganhar o dia.