Link

Ah ok

O sítio onde me beijas -aqui, no ombro esquerdo ainda não dói beija-me outra vez

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Banco de jardim 3 (Um conto de uma noite de verão)

Lembro-me do dia em que descobri a tua cara. Estávamos sentados no banco a treinar um diálogo para uma peça de tatro que ias fazer. Ainda agora me lembro o que era. Um sonho de uma noite de Verão. Shakespeare. Eras Hérmia. Tinhas um diálogo com Demétrio impossível. Eu ajudava-te. Fazia as falas dele e ouvia-te. Sobretudo ouvia-te e olhava-te. Sempre foste uma excelente actriz. Estavas entusiasmada nesse dia.
-Condeno-te, sim, condeno
que menos posso eu fazer
a quem me fez padecer
as cruas ânsias que peno,
se é certo, como receio,
que ao meu lisandro querido,
quando o viste adormecido
ousaste rasgar o selo?
Foi pouco o sangue espalhado
Só te chega ao tornozelo

O resto não ouvi. Devia, envergonho-me disso. Mas a culpa é tua. Tua e dos teus lábios zangados. Finos e leves. Foi nesse dia que notei neles. Na maneira como representavam. Os teus lábios. Os teus lábios sozinhos representavam melhor que qualquer actor de novela.
Sussuraste para mim e eu vivi um pouco mais:
-Agora és tu...
Eu li as minhas falas. Não representei e os meus lábios não dançaram, como os teus.
Quando acabámos, perguntei-te:
-e se escrevêssemos as falas neste banco?
-Para quê?
-Eu sempre achei que escrever é a melhor maneira de decorar algo.
-Mas porquê no banco?
-Eu não tenho papel nem caneta. Mas tu tens um porta-chaves/canivete suíço.
-pois...ok
Demorámos uma hora e pouco a escrever tudo. Mas verdade seja dit, o banco ficou muito melhor.