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Ah ok

O sítio onde me beijas -aqui, no ombro esquerdo ainda não dói beija-me outra vez

terça-feira, março 14, 2006

Na noite de maio

Eras tu que chamavas pelo meu nome, naquela noite de Maio. Os pombos voavam escondendo o sol escondido. No vidro do meu quarto escreveste
-amor
o meu nome. Pensavas que o silêncio ia gritar e lembrar-me para sempre. Não. O silêncio sofria
-amor
o meu nome, silênciosamente. Escreveste-o no vidro do meu quarto, com sangue que nunca foi sangrado. Como se o diabo fosse um actor. Tentaste assustar o silêncio.
-É sangue. Não te esqueças do nome dele.
Mas o silêncio era o silêncio e não ligou. Não te preocupes comigo, amanhã o sol volta. Amanhã os pombos terão algo para esconder. Esquece o sangue que não existe.
-Nada existe.
Mas o sangue existe. Vermelho. Sangrado por alguém, por algo. O sangue que existe foi gritado, chorado. Morto. Esse sangue com que escreveste
-amor
o meu nome, não existe. Eu estou cá e
-amor
o meu nome também. Amanhã o sol volta e eu vou estar cá. O silêncio sou eu e tu, nuvens perdidas num céu limpo. O silêncio vai estar cá. Amanhã os saxofones vão tocar notas soltas e vai deixar de ser silêncio. Nessa altura, o silêncio serão nuvens perdidas num céu limpo (eu e tu), e vai sabê-lo. Porque o silêncio não existe
nada existe
e o silêncio não vale a pena o sangue.