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Ah ok

O sítio onde me beijas -aqui, no ombro esquerdo ainda não dói beija-me outra vez

quarta-feira, novembro 29, 2006

Imagens de nós

Dedicado a Elliot Smith (1969-2003)
"I'm in love with the world threw the eyes of a girl that is still around the morning after"
Eu pensei em falar sobre ti. Não me sais da cabeça com essa maneira de mel
-Eh pá...
e a levantares as sobrancelhas e a evitar sorrir mas a sorrir. Toda rosada. E isso não me sai da cabeça, mas não é só isso. Tudo aquilo que nos correu. Os dias que importaram.
A minha certeza que os dias que importaram para mim importaram para ti.
Portanto, pensei em falar sobre ti. Ou escrever porque as coisas que se escrevem às vezes não se podem dizer. Uma espécie de segredos porque todos sabemos que o resto do mundo vai achar chato. E ninguém gosta de um chato.
Eu pensei em falar em ti porque não consigo manter-te em mim. Ou talvez manter-nos em mim. Nós somos algo diferente e para as coisas diferentes
(realmente diferentes)
há sempre interessados
-"Sing me something new"
dizes tu e dizem outros. Mas só tu levantas as sobrancelhas quando o dizes. Só tu evitas sorrir e depois sorris.
Às vezes lembro-me de frases, não de momentos completos, mas das tuas frases. Depois as minhas frases e depois as tuas e tornamo-nos uma tese.
-Acho que tu não percebes muito bem quem és.
-E olha que eu até me esforço
e nós continuávamos. Meu deus se continuávamos.
Encontrei-te uma noite numa discoteca, com as luzes intermitentes. A tua cara a mostrar-se entre escuridões. Rosada, meu mel. Eras jovem e eu era jovem. Mas apenas tu dançavas. Deliciosa, a moveres-te.
Nessa altura fomos novos e fomos apenas duas pessoas. Contigo, mel, mas normal. A sentares-te no banco a meu lado
-Um Martini
pedi e tu ali a seres gente.
-"Shaken, not stirred"?
Eu a achar que tu estavas ali e que podia perguntar o teu nome.
-não sou assim tão cool. Pago-te alguma coisa?
-Um Gin tónico.
Podia até convidar-te para vires para minha casa e seríamos apenas pessoas.
-Sabes, acho que se pusesses um fato e um laço serias suficientemente cool.
Nós os dois a ignorarmos que a música estava demasiado alta. A ignorarmos a nossa falta de normalidade. Enfim, a sermos ingénuos sem nos conhecermos.
-O meu nome é Hans Velthoven.
-Certo, daí o cabelo loiro. Eu chamo-me Teresa.
a sermos jovens, apenas jovens, sem sabermos que era o primeiro dia.
-Queres ir a algum sitio onde possamos estar sosinhos?
Agora nem consigo acreditar nos clichês que me escapavam. A minha maneira desajeitada de conseguir um pouco de felicidade.
-Depende do sitio.
-Se esse sítio fosse a minha casa?
Mas é enternecedor, agora
-Não achas cedo demais?
pensar nas coisas tolas que íamos dizendo
-talvez.
porque são memórias tão suaves. Vão deslizando em
-Vamos apenas para a rua.
lentas recordações. Aquela história das frases a surgirem-me umas atrás das outras.
Nós os dois a percorrermos as inclinadas ruas de alcântara. A olhar para ti e a esperar que me pudesses fazer feliz por uma noite. Tu a olhares para mim e a esperar...não sei bem o que esperavas. Mas ias sorrindo. Podia não te perceber
(por completo)
mas ainda assim ia achando-te. Era o primeiro dia e ia achando que aqueles teus sorrisos, meu mel, de quando se vê uma cena romântica. Ou de quando se ouve uma música que nos toca e nos faz tilintar algo. Aqueles sorrisos que são invitáveis de ternura numa mistura de
-uau
e de
-Isso é adorável
e esse foi só o sorriso do primeiro dia. Não eras gente para achar muita coisa adorável. Mas nós, nessa altura, fomos adoráveis. Agora percebo. Naquela vergonha de
-Que música gostas?
(a minha vergonha, não a tua. Tua apenas achavas adorável)
-Eu gosto de Elliot Smith.
-A sério? Eu também.
e agora eu acho que era uma vergonha adorável e umas frases adoráveis. As coisas que se vão aprendendo e eu queria logo que mas contasses. Tu fizeste o melhor que podias.
-Eu gosto de Elliot Smith.
a resumir-te toda numa noção vaga. A tua secura e doçura e a falta dela.
(mais a falta dela que o contrário)
As palavras belas que não são pirosas ou que raramente o são. Muito raramente. Apenas quando não o podem evitar. Apenas naqueles momentos de
-gosto muito de ti.
e nós mesmo assim íamos construindo variantes. Ideias mais creativas e mais reais. Menos generalistas. Sobretudo mais reais. Não se pode resumir o que nós somos num
-gosto muito de ti.
porque todos gostam muito de alguém.
-Hoje percebi que tenho tanto de ti na minha pele.
-Eu tenho tão pouco.
-Tanto de ti também é tão pouco.
-ainda bem
algo mais assim.
Sentámo-nos e em mim estava aquela vontade de te beijar. Aquela mesma que ainda tenho, enquanto escrevo as linhas que nós somos. Tento, pelo menos escrever-nos, se não consigo. Talvez não sejamos nós quem eu escrevo, meu mel, mas a minha vontade de te beijar. A impossibilidade de o fazer.
Enfim, acabei por te ir beijando todo tropeção entre
-desculpa.
e
-não faz mal.
e a falta de sorrisos porque quando estavamos estranhos, nada nos fazia rir. A tensão era demasiada e ao sê-lo fodia tudo. Fodia-te a a ti e fodia-me a mim. Às vezes durante demasiado tempo.
Perguntei-me um dia o que cria a tensão e descobri: os beijos, aqueles que ainda não eram hábito. Os
-amo-te
com aquele olhar intenso e o silêncio que a palavra foi. Um silêncio negro, não aqueles silêncios de sorrisos
(tão pouco silenciosos)
o primeiro
-desculpa
e
-não faz mal.
que destruiram o adoravel, construindo muito mais. Como aquela coisa de
-Queres ir a algum lado?
e de passarmos a noite toda sem reconhecermos
-está bem.
-Conheço um bar...
que a noite tardava demais, que não devia , que nunca antes acontecera.
-Onde fazem martinis abanados não mexidos?
-acho que não. Mas tem uma esplanada.
Vamos ver o pôr-do-sol mas não podia dizê-lo. Naquela noite éramos apenas a Teresa e o Hans, demasiado envergonhados para assumir. Ou com demasiado medo, mas enfim
-Não posso. Tenho de ir para casa.
enfim
-Está bem.
-Dás-me o teu número de telemóvel?
Dou-te, claro que te dou. Nós fomos aquela noite. Comigo a olhar para ti, meu mel, tão quente e curvilínea. A citares james bond e a gostares de Elliot smith e a dizeres, curvilínea, está bem. A dizeres está bem.
-És incrível.
cheguei a dizer-te nessa noite. Não consegui evitar, meu mel, ainda bem. Devia ter dito mais. Devia ter dito tudo. Mas éramos novos e engraçados e adoráveis. Tínhamos medo.
Um dia disseste-mo
-tinha medo
Mas agora não temos e existiu a altura em que dissemos tudo. Aqueles momentos solitários que nos tornaram nós. Aqueles momentos em que fomos doidos de felizes.
*
-O que é que achaste do filme?
-Estás mesmo a perguntar-me?
-Sim.
-Não devias.
-Porquê?
-a sério?
-Porque isso não se pergunta logo quando o filme acaba.
-Ai não?
-Não. Tens de esperar que o filme seja apenas recordação. Agora ainda estou demasiado inquieta.
-Desculpa.
-Não sejas tolo.
-Eu é que não achei assim grande coisa. Não fiquei muito inquieto.
-Vá lá, não sejas tolo. Chega-te mais.
-Eu gosto de ti inquieta.
-Gostas mesmo?
-Gosto. Ficas mázinha e terna.
-Isso é muito.
-Pois é. Estranho sempre. Não estou habituado.
-Ao mázinha ou ao terna?
-Aos dois. Costumas ser completamente diferente.
-Mesmo?
-Mesmo mesmo. És mais desperta e gostas de coisas. Mais romântica.
-Eu gosto bastante de coisas. Aqueles pormenores.
-Sim, sobretudo os pormenores.
*
Então eu sabia como te sentir. Já te tinha sentido muito e sabia como o fazer. Amando-te nas tuas imperfeições. Na verdade prefiro gostar de ti a amar-te. É mais vago, menos obrigatório. Gostar implica que às vezes pense
-Gosto de ti?
e
-Porque é que gosto de ti?
e as respostas tornam-se sempre inconclusivas, mas são respostas. Duvidosas, estranhas.
-Não sei. Acho que sim.
e
-Porque não me chateias. Nunca. Porque gostas de livros.
Como se o que gosto em ti fossem os livros. Não, isso é apenas uma resposta desesperada. Duvidosa, estranha. A verdade é: não sei.
-Não sei.
Então pergunto-me o que é o amor. Eu sei a resposta. Sei-a na ponta da língua. Tal como sei quem é a rapariga mais gira que já vi
(não és tu. desculpa)
na ponta da língua. O amor é adorar conhecer alguém. Adorar as conversas
(sobretudo as primeiras)
a dizer as coisas que apenas nós sabemos dizer. É necessitar de companhia. Alguém com quem ir ao cinema. Uma rapariga que
-Gostas de pipocas doces?
-Adoro.
-Eu também.
é isso. Basicamente isso. O resto, todos aqueles
-Eu amo-te desde que te vi.
Isso é ponta. Peço desculpa, mas é.
Nenhum dos dois está completo. Mesmo a junção dos dois é apenas agradável. Meu mel, nós nunca fomos agradáveis.
-Porque nunca me chamaste meu amor?
-Chamo-te mel. Não é melhor?
-Não.
-Desculpa mas é.
Mel é melhor. O amor é apenas um espirro: uma necessidade humana que até que sabe bem. Não é nada de especial. Meu mel, nós fomos sempre
(quase sempre)
algo de especial.
Eu gosto de ti porque, bem, porque gosto de ti. Acho-te simpática e interessante e todas as coisas banais que nunca chateiam ninguém. É simpático conhecer gente simpática.
Portanto, o que sinto por ti é gosto.
(Tirando alguns momentos em que te amo, assim de repente)
O que sinto por ti não interessa a ninguém. Apenas à minha segurança e à segurança das minhas memórias. Se te odiasse, no entanto, nós não seríamos nada. Perderíamos o sentido de termos existido. O mesmo se não sentisse nada por ti. Mas é só isso.
Portanto eu, na verdade, não sei como te sentir. Sei apenas como sentir-nos. Nós não nada somos separados, um em cada canto. Não temos ponta.
Eu sinto-nos a falar. A dizer coisas que deviam ser escritas. Devíamos ter alguém a seguir-nos. Um daquele senhores que estão nos tribunais a dactilografar tudo o que se diz.
-Eu adoro a associação de filme com música
-Bandas sonoras.
-Exacto. Gostava de ser a pessoa que faz isso.
-Tem de haver alguém.
mas com sorrisos pelo meio. Sem os sorrisos perde a graça toda.
É confuso. Eu sei. Mas apenas assim, confuso, nos posso descrever. Nunca ninguém nos encontrará na ordem.
*
Nós tivemos dois dias depois do primeiro. Apenas dois dias. Meu mel, eu sei que concordas: dois dias que nos tornaram nós.
Era um Novembro frio e nós caminhávamos por Alcântara. Sempre gostámos muito daquilo. Das ruas estreitas e do facto do rio estar ali mesmo. Bastava andar um pouco.
-Gosto da altura em que a água ainda está negra de manhã.
-É bonito.
Disseste é bonito porque não sabias o que mais podia acompanhar o sorriso.
-Também acho.
Encontrávamos o mar já perto e então disseste.
-Abraça-me amor.
Achavas estranho chamar-me Hans. Achavas que
-Tens mais cara de amor que de Hans.
e eu não te contrariava. De todo.
Ambos, abraçados, éramos cançados, devido à manhã precoce. Isso fazía-nos estar calados. Não um mau calados. Um bom. Como cantam os depeche mode
-Words are very unnecessary / they can only do arm
Começei a cantarolar. Palavra feia: Cantarolar. É preferível murmurar, sussurrar, mas perde-se a noção de ritmo. Ficam apenas as palavras. Os ingleses têm "hum". É melhor.
-Nunca concordei com essa música.
-Depende das alturas.
-As palavras são boas.
-Bem, depende das palavras.
-Pois. Odeio a palavra cantarolar.
-Também eu.
-O que é chato, porque adoro cantarolar.
-E quem não adora?
-Lá está, ninguém!
-Como é que ainda não se inventou uma palavra melhor?
-Não faço ideia!
Ainda abraçados. Os meus joelhos dobrados
(Semi-dobrados)
Para chegar-te melhor. O sol que lentamente tornava a água mais clara. O sol que nos ía acordando.
-Sabes, podemos fazer história agora.
-Agora e aqui mesmo.
-Claro.
-Seríamos os primeiros a fazer história abraçados.
-Portanto faríamos história por dois motivos!
-Provocaríamos revoluções por todo o mundo.
-Que tal mume?
-Mume?
-Sim, porque não?
-Isto seria para mudar para melhor.
-Não me digas que achas mume pior que cantarolar?
-Eh pá, não é melhor.
-Então diz.
-Não sei.
-Vá lá, uma ideia qualquer.
-Rufar?
-Como os tambores?
-Como o Rufus Wainwright.
-Mas os tambores...
-Popar?
-Como o Popeye?
-Oh, vá lá! O popeye não popa!
-Mas parece. E como palavra não é grande coisa.
-pois...
-humar?
-Um americanismo rasca?
-Já funcionou muitas vezes.
-Já.
-Nós não vamos fazer história.
-De todo.
*
Sabes porque te chamo mel? Alguma vez te disse? Acho que não. Talvez um dia me tenhas perguntado.
-Porque me chamas de mel?
mas desconfio que, qualquer resposta que te tenha dado, esteja errada. Algo do género.
-Porque, bem, acho que és doce.
Não és doce. Graças a deus, não és.
Ou então algo como
-Porque te adoro.
O que é menos errado. É verdade, adoro-te. Apenas não é essa a razão do "meu mel". É outra.
A maneira como te debruças. Como te estendes no mundo. A forma que o teu corpo toma. Deslizas, melosa, por um mundo que te adora.
No metro, nos postes metálicos, punhas-te toda caída. Liquida não, mas quase lliquida: melosa.
Ninguém tem isso como tu. Esse espetáculo de ficar em pé e repousar mais numa perna. Ficavas pesada no mundo
(nunca na balança, mesmo que tenhas dito o contrário)
e feliz. Não era sono. Era, bem, sedução talvez.
(porém odeio esta palavra)
e qual será o problema de agradar? Pedia-te, é verdade
-Não me podes agradar só a mim?
-Como assim?
-Pergunto se não podes ser delgada, sedutora, só para mim.
-Eu não sou sedutora, nem para ti, nem para ninguém.
-Não percebes o que digo?
-É assim que eu sou.
-Melosa?
-Não gostas?
-Gosto.
-Então cala-te.
Eu sorria quando dizias cala-te. Não era por mal. Era por não quereres ser demasiado doce. Demasiado fofa.
Tinhas medo disso e do oposto. Dizias às vezes.
-Desculpa se sou má.
-"Mean is ok."
A citar o Bill Murray no filme "Lost in Translation"
Isso não fazia parte de seres melosa. Mas não quero que penses que te achava má. Na verdade achava
(às vezes, mesmo só às vezes)
mas não achava isso mau.
*
Nós tivemos um dia então depois do segundo. Foi só isso. Só mais um dia. E nem sequer foi bem nosso, foi mais meu.
O Dia em que te foste embora. Em que nós nos perdemos e desaparecemos.
É bom quando podemos ter alguém sempre conosco. A adormecer ao nosso lado, todos os dias. A dizer-nos coisas doces ou coisas mázinhas ou apenas coisas. Frases atiradas ao acaso.
-Adoro ir ao cinema londres. Tem uns sofás giros.
Também é bom estar entrelaçado com alguém. Sobretudo se fores tu.

Fingia que adormecia com a cabeça entre os teus seios. Ficavas tão chateada. Detestavas o calor que te fazia ali. Mas mantinhas-te, com medo de me acordar.

É bom adormecer a cabeça entre os seios de alguém. Sobretudo se fores tu.
Mas lá está, isso é apenas bom. É uma coisa que acontece. As pessoas fazem-no
(acho eu)
e é bom. Mas apenas isso

Acaba por se perder entre as nossas coisas.

Não sei que coisas.

Acho que foi esse o problema.

Então o último dia não foi apenas o último. Nem sequer sobretudo o último. Ser o último, na verdade, quase não interessa. Podia ser um bom último. Podia deixar saudades e um dia poderia achar que o que nós fomos tinha sido imenso. Tínhamos sido tudo.

Eu, um dia, achei isso.

Achei que éramos tudo.

Mas não sabia bem o quê.

Acho que foi esse o problema.

No último dia disseste-me
-Conheci outro rapaz
e eu não percebi bem.
-Amo-o muito.
e eu continuei sem perceber. O que é que isso interessava?
-Não és tu, sou eu.
Aí não aguentei mais. Estávamos perdidos.
-Estás a gozar comigo?
-Porquê?
"Não és tu, sou eu." como é que alguma vez pudeste dizer isso. Morreste. Morremos
-Estás a falar a sério?
-Sim.
-Oh meu deus.
Pior: Nem nascemos. Nunca imaginei que pudesses dizer isso. Não foste tu, não podes ter sido. Deve ter sido o resto do mundo. Deles eu esperava esse "Não és tu, sou eu."
-O que foi? Qual é o problema?
-O problema? Já te ouviste? "Não és tu, sou eu" ?
-Estás mais preocupado que eu diga clichês do que esteja a acabar contigo?
-Bem, sim, claro. Porque assim...
As palavras demoraram. O raciocinio não é demasiado complexo, eu é que estava demasiado chocado.
-assim nem as saudades me deixas.
Algo deste género. Ainda mais.
-Assim, acabaste de estragar as memórias de nós.
-Não sabia outra maneira.
-Bem, por mim poderias ter pensado noutra coisa.
-Por exemplo.
-Que tinhas de ir para Londres. Que ias para uma escola de arte famosa. Sei lá! Um bilhete a dizer que morreste. Ao menos assim ainda restaria algo de ti no mundo.

Acho que ficou por aí. Ou tu te foste, ou eu me fui. Na verdade, não interessa.

Apercebi-me que fomos apenas porreiros. Fizemos companhia um ao outro.

Pensava que não. Pensava que tínhamos sido tudo.

As palavras. As melhores. Não sei bem quais.

Acho que foi esse o problema.

domingo, novembro 12, 2006

O que adoro no Vanilla Sky

Posso começar por dizer que não foi a primeira vez que vi. Já o tinha apreciado anteriormente em 2001. Gostei, na altura. Mas foi meio na onda de
"Não tenho de gostar só do que percebo"
(estou a citar-me a mim mesmo)
(na altura gostava mesmo era do Jackie Chan)
não me preocupei muito. Os meus pais não perceberam na altura. Agora esse atractivo
(porque algo que não se compreende é atraente por si mesmo. Para mim)
foi-se. Percebi tudo. De uma ponta à outra. Na verdade, deixei de perceber as pessoas que não o percebem. É simples. Está tudo explicadinho no final. Mas é bom. Por motivos completamente diferentes.
Porque a banda sonora tem duas músicas dos rem. Porque o Tom Cruise gosta de Miles Davis. Porque a Penelope Cruz gosta de Jeff Buckley. Enfim, o mesmo motivo pelo qual os filmes do Cameron Crowe são bons.
Mas este, para além disso, é inquietante.
(é verdade que a mim tudo me inquieta, mas esta é a minha opinião.)
quando acabei de o ver, tive medo de me olhar ao espelho. Não demasiado medo, mas algum.
(pronto, ok, sou medricas, mas esta é a minha opinião.)
Faz uma pessoa pensar, sempre que alguém diz "open your eyes" ou "what is happiness to you". É complicado dizer se ele acorda mesmo. Se quiseres pensar nisso. Na verdade, se quiseres complicar. Não compliquem. É simples.
"Teorias para quê? Está tudo tão bem explicadinho"
(citação desta vez do meu irmão, a questionar as teorias relativas ao Hard Candy"
Por fim, o Vanilla Sky é bom porque , quando o Tom Cruise chama a assistência técnica, estamos a ouvir os Beach Boys a cantar "good vibrations". Vá lá, isso é bom.
ps: claro que não sou estúpido, sei que o cast é mau, mas isso não interessa muito.

segunda-feira, novembro 06, 2006

I still feel you and the taste of cigarretes

Vou ser honesto com a malta


Não nasci perfeito. Houve uma altura remota em que pintei o cabelo de loiro. Ouvi dizer que as gajas preferiam. Enfim. Mas foi nessa altura em que li a metamorfose do Kafka.