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Ah ok

O sítio onde me beijas -aqui, no ombro esquerdo ainda não dói beija-me outra vez

segunda-feira, maio 22, 2006

Lost In Translation Era apenas a estática das vozes no ar. Dezenas de pessoas num bar e aquele ruído branco de pessoas a conversar. Um ruído branco de:
-Vou casar.
e de
-Prazer em conhecer-te.
e de
-Trazes-me um vodka lima?
com o cheiro de tabaco, de casino clandestino. Ele estava no balcão, a beber vodka com um sumo de fruta qualquer. Era mais vodka que sumo de fruta. Ela estava no banco ao lado. Um daqueles bancos altos de bar. Pensava no liceu, no grupo de amigos que deixou para trás. No joão, no Pedro e na Marta. Mas sobretudo pensava no rapaz ao seu lado. Não sabia o nome dele. Apenas sabia aquilo que sempre sabia ao ver alguém. Tudo.
Ele gostava do cabelo dela: loiro arruivado. Dava para ver que a cor era verdadeira. Ele gostava dos lábios dela e ela gostava dos lábios dele.
-olá
-olá

E ele percebeu que ela era incrível. A subtileza com que os seus lábios sorriram. Um sorriso embaraçado e suava. Um sorriso que diz
-Adoro-te
e di-lo suavemente. Nessa noite não disseram nem mais uma palavra um ao outro. No entanto foi mais importante para ele que qualquer encontro que teve na vida. Ela...Ela quando chegou a casa, notou que ainda estava a sorrir.
Numa de My Bloody Valentive-When you sleep

sábado, maio 20, 2006

A floresta em sua casa

“A verdade começa sempre na mentira”

Dr.House

Eu estava delirante com o quadro. Custou-me uma fortuna. Trouxe-o para casa. Pu-lo no topo da lareira e observei-o durante horas. A selva não era só a selva, mas aquele nervosismo de quem está sempre em perigo. Como se cada planta respirasse ofegante. Cada pássaro, cada chimpazé. Cada animal tinha os olhos arregalados, aterrados. Eles pediam-me ajuda. As riscas das zebras estavam rosa. Sentei-me no cadeirão de camurça, sempre a olhar o quadro. Não sei se adormeci. Talvez tenha desmaiado, talvez tenha morrido por momentos. Quando acordei, estava sangue no chão. Uma das zebras tinha morrido. O seu cadáver estava deitado junto à lareira. Dilacerada. Pareciam marcas de garras. Os outros animais estavam agora ainda mais assustados. Eu percebi que tinha de fazer algo. Mesmo que fosse a lei da selva, não podia deixar que existisse uma chacina na minha sala. Comprei armadilhas para animais. Não sabia qual era. Minei a sala com redes e todo o género de engenhos avançados. Empunhei uma faca grande e escondi-me atrás do cadeirão de camurça. Comprei-o num leilão por três mil e novecentos dólares. Esperei que algum animal atacasse. Horas passaram e o quadro parecia apenas um quadro. A imagem estava fixa, o vento não fazia as plantas mover. Eu não conseguia ouvir a respiração apressada das iguanas. Comecei a pensar que tinha imaginado tudo. Comecei a pensar que o meu psiquiatra tinha razão. Até que apareceu o meu filho. Inocente, olhava para a tela. Estava assustado. Chamava pelo irmão. Coitado. Entrou na sala um leão. O meu filho: um leão. Era ele então. O assasino. Pensei

-Não vou conseguir fazer isto. Não vou conseguir matar o meu próprio filho.

As taínhas olhavam-me de tal maneira...tive pena delas. Mesmo sendo o meu filho, era um assassino. Quem seria a seguir? A minha mulher? Eu não poderia deixar isso acontecer. Matei-o naquela noite, com a minha faca. Quando o matei, senti alívio. Tudo aquilo tinha acabado. Quando estava na casa de banho, a lavar a faca, vi que estava um macaco empoleirado no candeeiro. Estava assustado. Comecou a murmurar algo. Não conseguia perceber o quê. Aproximei-me dele.

-Vamos todos morrer.

Mas eu já tinha matado o leão. Não havia nada a temer. Fui-me deitar, junto à minha mulher. Estava seguro agora. A nossa vida ia continuar. Tentei adormecer, mas estava uma zebra aos pés da cama.

-Vamos todos morrer.

A minha mulher. A minha mulher era um leão também.

-Vamos todos morrer.

A faca...onde está a faca.

-Vamos todos morrer.

Oh meu deus.

Numa de Editors-lights

quarta-feira, maio 17, 2006

A máscara

Numa de My Diet Pill-Summer song

quinta-feira, maio 11, 2006

A utopia do sonho é a utopia da realidade (5)

Depois desse dia tive insónias. Só conseguia dormir com comprimidos e não dormia: como que morria apenas por momentos. Mas estar cançado não me preocupava. Os meus joelhos dormentes não me preocupavam.
Acabava a minha crónica e deitava-me no chão. À espera dela. À espera que ela viesse ter comigo. Esquecia-me de tudo e as minhas ideias eram loucas. Ideias de olhos fixos em lado nenhum. Eu era uma noção vaga. Uma noção vaga vageando. Uma noção vaga vageando no vago. Uma música triste sobre uma rapariga e um rapaz. Uma canção de um amor que eles perderam. Como um balão que está a subir. Que subiu demais, não se pode apanhar. No entanto eles continuam a tentar.
Voltei a conseguir dormir mas não sonhava. Não com ela. A minha vida voltou a ser como era antes. Apenas pensava
-Ainda bem que a beijei.

Numa de Jeff Buckley - Hallelujah

terça-feira, maio 09, 2006

Enfim (2)

Se eu falasse a sério, para que é que servia este blog?

Numa de josé gonzelez-all you deliver

segunda-feira, maio 08, 2006

Enfim

Os textos são escritos, não por um escritor, mas por algo distante dele. Não digo que não seja o escritor que produz os textos: é o escritor. No entanto os textos, normalmente, são bem mais interessantes que quem os escreve. Eu deixei de ler António Lobo Antunes quando o ouvi falar: percebi o que que ele escrevia não era romântico, era presumido. O que eu escrevo é apenas diferente do que eu falo. Acho que é mais sério. No entanto, esta é uma boa ocasião para deixarem a vossa opinião.

Numa de Ryan Adams-Carolina rain

sexta-feira, maio 05, 2006

A utopia do sonho é a utopia da realidade (4)

Nessa noite, desse dia, adormeci. Adormeci e estava sentado à beira-rio. Sentado em pedras, reais. As pedras eram reais. O rio corria nos meus pés. A água era água com estrelas e sol imbutidos. As estrelas estavam misturadas com os peixes. O sol não se misturava com nada. A água era aquela felicidade irracional de ouvir uma música de amor.
(não há nada de racional nas músicas de amor)
Eu estava sentado em pedras
(reais)
e ela também. Não mesmo ao meu lado: talvez a uns três metros.
(para a direita)
-Olá
-Olá
-Nem te despediste de mim. No outro sonho.
-Os meus vizinhos acordaram-me. desculpa. Estavas a explicar-me quem eras.
-Já tinha acabado. Não te posso dizer mais nada. Posso-te dizer que não sou real. Não da mesma maneira que tu és.
-Não faz mal.
Ela sorriu com os lábios e as sobrancelhas: intrigada
-Então e como é que te chamas.
-Eva.
-É bonito
-É um nome.
Nos sonhos tudo é diferente, nada é racional. Aquilo que não interessa não existe e o sol, às vezes, fica verde-alface.
Nada é racional, tudo é disparatado. Não há regras.
Eu beijei-a. Ficaram por acontecer todos os momentos e o tempo. Eu não lhe telefonei só para ouvir a voz dela, não lhe deixei músicas de amor no voice-mail. Não fomos ao cinema, não demorei uma hora a preparar-me, não existiram rosas, nem cravos, nem cd's com músicas romanticas, nem sequer sorrisos comprometedores. Mas nos sonhos nada é racional, tudo é disparatado e o sol, às vezes, fica verde-alface.
Eu beijei-a e abracei-a e foi diferente da realidade. Talvez mais real. Eu senti os seus lábios como senti os meus e um arrepio na espinha. Um som agudo e o meu coração deixou o ritmo habitual: começou a tocar piano. O ar estava duro e os meu braços não conseguiam tocar nas suas costas. Para algumas coisas, as palavras não são suficientes. As palavras são poucas
(demasiado poucas)
para explicar músculos que não se mexem no ar que não compreende um abraço. Ela sentiu que:
-Até amanhã.
-Até.

Numa de Snow patrol-open your eyes

quinta-feira, maio 04, 2006

How can she fall for you if your not there to catch her

"And all the girls in every girlie magazine
Can't make me feel any less alone"

Numa de Death Cab For Cutie - a lack of colour

quarta-feira, maio 03, 2006

A utopia do sonho é a utopia da realidade (3)

Os meus pais telefonaram-me. Pediram-me que eu
-Fala com o teu irmão. Ele acabou com a Ana. Ele não consegue manter uma relação por mais de dois meses. Fala com o teu irmão.
e eu convidei-o para almoçar. Fomos para uma esplanada com vista para a praia. Lembro-me que comemos umas bifanas no pão, mas isso não é importante.
-Os pais disseram-me que acabaste com a Ana.
-Pois, é verdade.
-Não podes ser tão instável. Tu nunca namoras o tempo suficiente para a conheceres. Nunca te esforças por uma relação. Já não tens idade para fazeres o que andas a fazer.
-Olha quem fala, tu não também não tens tido propriamente relações "estáveis"
(ele fez aquilo das aspas com os dedos. Meu deus, eu odeio isso)
à anos.
-Isso é muito injusto. Sabes bem que eu não tenho uma relação qualquer com uma rapariga à anos.
Ele sorriu
-Mas eu não tenho culpa. Não tenho jeito com as miúdas. Mas tu tens.
-Mano, acredita que não é por eu não gostar delas. Não é de todo. Mas quando a relação se transforma numa relação...quando deixa de ser apenas amor. Pior, quando o amor só existe às sextas à noite no cinema. Quando acordamos juntos e nenhum de nós se preocupa em arranjar o cabelo, para o outro não perceber que às vezes estamos desleixados. Eu não quero que fiquemos desleixados. Eu quero demorar sempre meia hora a arranjar-me antes de ir ter com ela. Não quero que deixar de me importar com se ela está a usar um vestido bonito. Não quero que fiquemos comfortáveis um com o outro. Quando isso acontece...tu percebes, não percebes?
Levei a garrafa de cerveja aos lábios e bebi um golo a olhar para o mar. Pensei no que ele tinha dito e sorri. Ele tinha razão. Ele tem razão. A música naquela esplanada era fantástica,

Numa de Death cab for cutie- Technicolor girls