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Ah ok

O sítio onde me beijas -aqui, no ombro esquerdo ainda não dói beija-me outra vez

quinta-feira, dezembro 29, 2005

Heartbeats(4)

Fomos para casa em silêncio, no carro dela. Em Silêncio pela primeira vez em muito tempo. Fomos para o quarto dela e deitámo-nos na sua cama. Lado a lado. A olhar o tecto. Sem prévio aviso ela rolou para cima de mim e beijou-me. Fizemos amor em silêncio. Adormecemos em silêncio. Apenas porque tinhamos medo que os sons pudessem estragar o que estava a acontecer. Tínhamos medo que o minimo ruido pudesse mudar algo na forma como as estrelas estavam no céu. Tínhamos medo que isso nos afectasse. Tão tolos.
Acordámos tarde, tão tarde. Porém em sintonia. Ela virou-se para mim.
-Bom dia.
-Bom dia.
Fomo-nos deitar num monte, a olhar a estrada. A contar os carros que passavam. Com a minha mão sobre o seu ombro. Como se fossemos só nós no mundo. Só nós é que existia-mos, apenas nós. Depois observáva-mos as outras pessoas. Forasteiras no nosso mundo. Convidadas. Disse-lhe:
-Amanhã vou mudar-me para outra casa.
-Porquê?
-Não estou preparado para viver na mesma casa com a namorada. Não nos conhecemos á tempo suficiente. É melhor arranjar uma casa para mim.
Uma lágrima escorria do seu olho. Ela tentou fazer um sorriso, mas não conseguia. Ela sempre foi muito emotiva. Chorava e ria tão facilmente. Tão inocente. Beijei a sua lágrima e abracei-a com força.

sexta-feira, dezembro 23, 2005

Heartbeats(3)

Voltámos por volta das Seis da tarde. Vimos várias casas. Interessantes até. Vou ficar em casa dela até o pai voltar. Depois logo se vê.
-Queres-me ir ver hoje cantar ao bar?
-Hoje cantas?
-Sim. Tem que se fazer pela vida.
-Gostava muito de te ir ver.
Cantei só uma música. Uma música de um filme.

"Let me sleep
For when I sleep
I dream that you are here
You’re mine
And all my fears are left behind
I float on air
The nightingale sings gentle lullabys
So let me close my eyes

And sleep
Per chance to dream
So I can see the face I long to touch
To kiss
But only dreams can bring me this
So let the moon
Shine softly on the boy I long to see
And maybe when he dreams
He’ll dream of me

I’ll hide beneath the clouds
And whisper to the evening stars
They tell me love is just a dream away
Dream away (echo 3x)
I’ll dream away

So let the moon
Shine softly on the boy I long to see
And maybe when he dreams
He’ll dream of me

Oooohhh
Dream of me"

Olhei para ela durante toda a música. Olhei para ela até toda a gente se ir embora do bar. Apenas ouvia a minha respiração no microfone. Apenas via os seus olhos. Os seus olhos, verdes. Oh, os seus olhos verdes. Como é que eu nunca tinha notado neles. Claro, sabia que eram os seus olhos verdes. Mas não como sei agora. Olhos que eram os meus, quando os olhava. Olhos que poderiam ser de outro qualquer, mas que pareciam tão meus. Espelhos verdes. Propriedade privada de todos os que os olhavam. Saltei o palco num segundo. Ela levantou-se e eu beijei os seus lábios. Como se beijasse os seus olhos. Porque não podia bejar os seus olhos. Não agora. Ela sabia a cacau quente. Cacau quente numa véspera de Natal. A língua dela cacau quente. Isso mesmo, cacau quente.

segunda-feira, dezembro 19, 2005

Heartbeats (2)

Acordei ao meio dia. A casa era bastante agradável. Algo muito diferente de todo o resto da vila. Dormi no quarto de hóspedes. Levantei-me e fui ao quarto dela, só para espreitar. Ela ainda dormia profundamente. Preparei o pequeno-almoço num tabuleiro, como para lhe agradecer. Pousei-o ao lado dela na cama, e sentei-me a olhar para ela. Os Lábios eram finos. Sobretudo o superior. No entanto a fineza era em grande parte conpensada pela sensualidade. O lábio podia expremir milhares de sentimentos por segundo, num movimento incrível. Era bastante vermelho. Natural, nada de batons bassos, com brilho ou qualquer outra forma de beleza fabricada. Na verdade, nenhum batom conseguiria alguma vez reproduzir tal cor. Uma cor cansada pelos beijos perdidos, conseguidos e achados ao acaso num bar. Neste momento sussuravam algo. Frases soltas de sonhos. Frases sensuais. Frases que eu não deveria ouvir. Mal eu estava a sair do quarto, ela acordou.
-hum...bom dia-disse ao espreguiçar-se
-Bons olhos a vejam. Dormiu bem?
-Bastante bem obrigado. Preparaste o pequeno almoço?
-Preparei. Pensei que poderias estar com fome.
-Pensaste bastante bem
Trincou uma bolacha com doce de morango e passou um guardanapo pelos lábios.
-Então e o que fazes hoje?
-Vou ver casas.
-Vou contigo.

Heartbeats

Dei um concerto num pequeno bar, numa pequena vila. Estava quase vazio. Um casal nos seus 70 anos encontra-se sentado na mesa. Pareciam namorados de liceu, a quem não olhasse com atenção. O senhor estava a dormir. A senhora, sem notar, ouvia-me a cantar atentamente.
Noutro canto encontrava-se um homem, de meia idade sozinho. Olhava para o copo de cerveja. De cinco em cinco minutos, abanava-o, depois bebendo um trago.
Versões apenas, o meu talento não justifica mais que isso. Piano e voz. Cada vez é mais comum. Cantei várias músicas, desde Coldplay até Billie Holliday.
Antes da última música, entrou no bar uma rapariga de cabelos loiros. Estava escuro e eu pouco via dela.
A última foi de Ryan Adams. Só por si uma versão da wonderwall, dos oasis. Soberba. Para além de que é quase só piano, o que ajuda bastante.
Olhei para a rapariga enquanto cantava a música. Olhei para ela e ela olhou para mim. Ela tinha-se sentado num lugar iluminado e pude então ver a sua cara. Lábios finos e olhos verdes. Uma rapariga de cabelos loiros, que mais se pode dizer. Vestida com uma blusa rosa de manga curta. Uma saia pouco abaixo dos joelhos. Branca. Uma rapariga de cabelos loiros, que mais se pode dizer. Pode-se dizer que estava a olhar para mim com deleite. Sorria só com um canto da boca.
Mal acabei ela dirigiu-se ao palco.
-O meu nome é Teresa.
-Pedro.
-Nunca te tinha visto cá.
-É a minha primeira noite.
-Gostei muito dem te ouvir cantar. Cantas muito bem.
-hum...obrigado.
-És de cá?
-Acabei de me mudar. Fiquei com o lugar de professor de Arte na escola primária local.
-Oh, a serio? Isso é muito porreiro. É bom conhecer gente da nossa idade. Cá não há muita.Mais importante, as que há não cantam como tu.
Sorri, envergonhado. Quem não ficaria. Incrível a rapariga. Apenas tão simpática como seria humanamente possível. Sempre gostei de elogios, tenho que admitir.
-Então e tu, estudas...trabalhas?
-Estudo. Estou no 12º em humanidades. Estou a pensar em seguir jornalismo.
-Porreiro.
-Ah, onde é que estás a ficar?
-Na verdade, ainda não sei. Por hoje dormiria no meu carro. Amanhã ia alugar um quarto por aí.
O dono do bar, com as chaves na mão tossiu propositadamente. Pelo olhar dele, devia estar com vontade de fechar o bar. Fiz-lhe um gesto com a mão, pedindo desculpa e dirigimo-nos para a rua. Abotoei o casaco de penas, ficando a olhar para o vapor de água que saía da minha boca. Estava frio.
-Queres ficar em minha casa? Não há problema nenhum, o meu pai foi de viagem e só volta para a semana.
Ia negar o convite quando ela me interrompeu. Com o mesmo sorriso com um canto da boca que me tinha dirigido antes, prossegiu:
-Só enquanto não arranjares quarto. Não te poderia deixar a dormir no carro!
-Obrigado...-Ela sorriu com todos os dentes-...quando encontrar um quarto eu saio, prometo.

sexta-feira, dezembro 16, 2005

Um pouco de sexo (2)

Passámos 5 anos naquele beco, naquele prédio. Nunca nenhum de nós disse "eu amo-te". Na verdade, nós não falavamos muito. Ao fim do terceiro ano, era raro não estarmos levemente embebedados, só para evitar a ressaca. Ao fim do quinto, pela primeira vez á muito tempo, não estávamos bêbados. Fomos para um jardim e sentámo-nos num banco com vista para o rio. Pela primeira vez, ela falou comigo:
-Não tens família?
-Porque é que perguntas?
-Porque nestes cinco anos nunca visitaste ninguém, nem nunca telefonaste.
-Pois...não.
-Ah.
-E tu?
-Tenho pai. Vive em telheiras. Nunca nos demos muito bem.Agora não nos damos de todo
-ok
Ela beijou-me sem estar bêbada. Foi a primeira e única vez. Senti lágrimas nos olhos dela. Mal largou os meus lábios, foi para a beira do rio e suicidou-se. Um tiro. Deixou o corpo tombar para dentro do rio, e ele lavou o sangue. Apenas fiquei a olhar para o ar. Para o sítio onde ela se suicidou.

Um pouco de sexo (1)

Conheci-a há uns anos. Chamava-se Teresa. Conhecemo-nos numa discoteca. É difícl dizer como. O alcool afecta-me bastante, mas acordámos os dois num motel abraçados. Ela tinha os cabelos negros e a pele branca como cal. Ficava-lhe bem. Usava sempre batom vermelho nos lábios.
Ela, mal acordou, vestiu-se. Foi-se embora sem dizer uma palavra. Deixou um papel na mesa de cabeceira com o seu número de telemovel. Liguei-lhe passado uma semana.
-ola.
-ola...quem fala.
-Conhecemo-nos sexta feira passada, na discoteca.
-Ah.
-Queres ir sair hoje?
-ok.
-Porreiro.
Fui chamá-la a casa. Ela parecia estar com a mesma roupa do último dia. Um blusão de cabedal preto e uma blusa vermelha. Uma mini-saia vermelha com folhos. Deu-me um beijo na face e entrou no meu carro. Fomos para um beco num prédio sem iluminação. Ela tirou o blusão e eu passei-lhe uma garrafa de vodca. Ela bebeu dois goles e sentou-se no chão. Eu peguei na minha garrafa e dei dois goles enquanto olhava a lua. Depois de ambos termos dado muitos goles, ela levantou-se e beijou-me de uma maneira incrível. Fizemos sexo, ali em pé. Ela não parecia estar muito interessada. Ela nunca pareceu estar muito interessada.

quinta-feira, dezembro 15, 2005

Febre de sábado á noite (9)

O facto de ela se ter ido embora, ter voltado para casa dela, alterou muita coisa. Ainda vivemos um pouco longe e á uma semana que não a vejo. Andamos os dois com exames e não temos tido tempo. Eu penso muitas vezes nela. Nos cabelos loiros que ela teimava em juntar com um elástico. Nos cabelos loiros que eu soltava sempre que ela deixava. Nos olhos que eram azuis. Os olhos que eu olhava durante horas, só para poder senti-la. Para poder senti-la de uma maneira que é impossível quando fazemos amor. Para poder senti-la nos meus ossos. Na minha pele arrepiada. Nos meus olhos, que se tornavam dela. Peixes verdes, dizia ela. Ela sorria. Eu sorria um sorriso tão aberto. Uma alegria tão grande. Lábios finos, que mordia enquanto me olhava com um ar de marota. Como se fosse fazer algo maroto. Enganou-me sempre. Olhava as árvores sem folhas como apenas eu olho. Apenas nós os dois nutrimos tal paixão pelas árvores sem folhas. Penso muitas vezes se são apenas uma reflexão de nós os dois. Se antes de nós elas eram feias.
Encontramo-nos amanhã. Acabamos hoje os exames e vamos fazer uma "road trip" pelo país. Pegamos no meu carro. Um renault clio, para nós chega e sobra. Vou beijá-la outra vez.

quarta-feira, dezembro 14, 2005

Festa de sábado á noite (8)

Ela levantou-se e vestiu a blusa
-Tenho que voltar para casa.
Não respondi. Eu sabia que era a mais pura das verdades. O irmão dela já tinha telefonado montes de vezes a perguntar por ela esta semana. Passou-a toda cá em casa. Tenho pena.
-O que é que vais dizer ao teu irmão? Passaste uma semana inteira fora de casa.
-Não sei ainda bem. Posso dizer a verdade...ele não se preocupa assim tanto comigo.
-Ele gosta muito de ti.
-Ele está sempre bêbado.
-Ele gosta muito de ti.
Ela não respondeu. Ela sabia que era a mais pura das verdades.

terça-feira, dezembro 13, 2005

Febre de sábado á noite (7)

Acordámos com os primeiros raios de sol. Permanecemos os dois enroscados um no outro, fingindo que dormiamos. Beijei-te e levantei-me. Espreguicei-me e lembrei-me onde estava. Lembrei-me com quem estava. Não que alguma vez me tivesse esquecido, mas pensar em ti fazia-me sempre uma sensação engraçada na pele. Sorri:
-Anda daí minha preguiçosa!
-Estou muito cançada...
-Vamos para minha casa. Não está lá ninguém...
Fomos e eu liguei a aparelhagem. "Pulp-underwear". Para condizeres ficaste de soutien e cuecas. Um strip sexy, se ao menos cada vez que olhasse para mim não se ri-se. Sentei-me na cama, a olhar por uma parede de vidro que tenho no meu quarto.
-Como é que alguém se quer embebedar, drogar...perder a noção da realidade, se as árvores ficam tão bonitas sem folhas.
-Há pessoas incríveis. Fazem coisas disparatadas. Suicidam-se.
-Fazem desenhos rapando partes do cabelo.
Só ela é que se ri do que eu digo. Não critico o resto da humanidade, realmente não tem grande graça, mas ela ri-se. Nunca saberei porquê.

segunda-feira, dezembro 12, 2005

Febre de sábado á noite(6)

Saímos da água e entrámos no bosque. Corremos e no meio de risos deitámo-nos na relva, a secar. Ficámos abraçados durante um tempo. Ela adormeceu e eu levantei-me. Fiquei a olhar para ela. Sim, bastante encantadora. Encantadora na maneira como sorri e como chora. Na maneira como diz "amo-te". Sim, bastante encantadora. Um pouco como uma caneca de cacau quente no inverno. Já era noite e resolvi acordá-la. Tinha algo para lhe mostrar.
-Matilde.
-Hum...que horas são?
-Não importa. Vem comigo.
-Onde?
Não lhe respondi, apenas olhei para ela com um olhar desafiador e ao mesmo tempo divertido. Ela levantou-se e riu. De uma maneira encantadora, claro. Andei um pouco para dentro da floresta e ela seguiu-me, de mãos dadas. Do nada, deixaram de existir árvores, e se não conhecesse aquela floresta, teria caído do precipicio. Sentámo-nos com os pés a pender para o vazio. Via-se uma imensidão de luzes lá em baixo, como se ali fosse sempre natal. Ela ficou a olhar para mim, enquanto eu com uma pá que ali estava, desenterrei uma caixa. Abri-a com a pá e tirei um piano. Ela franziu as sobrancelhas e disse "o que é que....".Não a deixei terminar a frase:
-Quando era miúdo comprei um piano. Os meus pais não me deixavam tocar em casa. Tinham medo que eu quisesse ser pianista. Eu vinha para aqui e tocava. Comprei uma bateria enorme á qual ligava o piano.
Tirei a bateria da caixa e liguei-a ao piano. Começei a cantar uma canção de amor. Um poema perdido no tempo. Eugénio de Andrade. O poema chama-se green god. É em português, ao contrário do que o nome mostra. Cantei-lhe uma música de amor que era assim:
-"Tinha consigo a graça
das fontes quando anoitece.
Era o corpo como um rio
em sereno desafio
com as margens quando desce.

Andava como quem passa
sem ter tempo de parar.
Ervas nasciam dos passos,
cresciam troncos dos braços
quando os erguia no ar.

Sorria como quem dança.
E desfolhava ao dançar
o corpo, que lhe tremia
num ritmo que ele sabia
que os deuses devem usar.

E seguia o seu caminho,
porque era um deus que passava.
Alheio a tudo o que via,
enleado na melodia
de uma flauta que tocava."

Cantei-lhe uma canção de amor. Susurrei-lhe uma canção de amor. Com esta canção, ela abraçou-me. Fizemos amor. "E desfolhava ao dançar o corpo, que lhe tremia num ritmo que ele sabia que os deuses devem usar".

sábado, dezembro 10, 2005

Febre de sábado á noite(5)

Levei-a de carro ao sitio onde vivia. Um sitio que ainda agora me surpreendia, pela sua beleza. As árvores não tinham folhas e as vivendas eram brancas e feitas de madeira. O chão coberto de folhas castanhas, molhadas só por existirem. As pessoas usavam cachecois tricotados á mão e casacos até aos joelhos. Fomos até ao rio, atirar pequenos seixos ao mar. Vê-los saltar. Eu disse-lhe:
-Tenho algo para te confessar.
Ela arqueou uma sobrancelha com um sorriso nos lábios.
-Eu só estou contigo pelos teus cabelos loiros. Dão-te um ar tão leve...como se pudesses voar. Sim, uma beleza leve, porém intensa. É impossível não a ver, chamando a atenção de qualquer um. Portanto, tenho que admitir que se não fossem os teus cabelos, eu não te amaria.
Ela sorriu e deitou-se na relva olhando, primeiro para a água, depois para mim.
-Vamos?
Corremos os dois para dentro de agua, como da primeira vez

quarta-feira, dezembro 07, 2005

Febre de sábado á noite (4)

-O estudo foi bom?
-Foi. O teu irmão não sabia lá grande coisa e eu tive de lhe explicar metade da matéria. Tirando isso...
Estavamos no mesmo restaurante da outra vez. A quantidade de velas tinha aumentado em grande escala. Os seus cabelos louros faziam a sua cara tão leve...como se fosse o verão. A sua tristeza tão alegre. Sorria como quem dança. Chorava como quem dança. Os seus olhos que também eram peixes verdes, choravam como quem dança.
-Tudo bem?Meu amor, porque choras?
-Tenho medo...que um dia, deixes de me chamar meu amor. Eu sei que não devia e é pouco racional, mas não o posso impedir. Tenho medo que deixemos de ser nus para ser silêncio. Para ser uma recordação vaga do que somos. Peixes verdes.
-Sabias que és muito bonita. Tenho que te confessar: Choras como quem dança. Tenho que te confessar: Sorris como quem dança. Meu amor...nunca deixaremos de ser nus, pois nós somos nus, e na verdade, nós nunca mudaremos. Prometo-te, que serás sempre o meu amor.
Sorriu epicamente com um sorriso momentâneo, que eu passei a procurar sempre que ela sorria. Fomos para casa e fomos, naquele momento mais que nunca, peixes verdes. Peixes verdes nus na cama. Fizemos amor como se fosse a primeira vez. Aliás, como se fossemos os primeiros. Movimentos ritmados, incessantes. Eu dizia meu amor e beijava-a apaixonadamente. As suas pernas abraçavam a minha cintura. Eu so pensava nela, naquele momento. Toda ela na minha cabeça. Uma vontade inssaciável dela e do seu amor. Por fim tranformá-mo-nos num só, naquele momento do final das nossas vidas. naquele momento do início das nossas vidas. Assim adormecemos.

terça-feira, dezembro 06, 2005

Febre de sábado á noite (3)

Quando entrei no carro, a porta de casa dela abriu-se. Ela correu na minha direcção, parando a poucos centímetros de mim. Ela disse:
-Os teus olhos são peixes verdes.
Era verdade. Naquele momento, os meus olhos eram realmente peixes verdes. É algo recorrente com todos os apaixonados. Os nossos olhos transformam-se em peixes verdes.
-Os teus olhos são peixes verdes.
Desta vez ela já não disse esta frase. Ela beijou-me esta frase. Como quem beija toda a literatura portuguesa: Desde Luís de Camões a Eu génio de Andrade. Custava-me partilhar este beijo com outros, não digo que não, mas mesmo assim este beijo foi tão bom. Salgado e doce.
-Matilde...
-Diz.
-Nada. Gosto da maneira como o teu nome estremece o meu coração quando o digo.
Ela sorriu. Com esse sorriso ainda por acabar, disse:
-Queres entrar?
-Gostava muito.
Fomos os dois para casa dela . Estava a chover e usámos isso como pretexto para abrir um guarda-chuva e ficarmos ali, juntos, apenas uns segundos mais. Foi apenas um pretexto, isso da chuva, pois ela nem se ouvia a chegar ao chão. O ar sugava-a, como se não quisesse quebrar o silêncio eterno de nós os dois.
Chegámos ao quarto dela e fomos para a cama. Beijámos-nos durante horas, mas não fizemos amor. Ainda não estava na altura.
*
Acordei mal o sol rasgou os céus. Rapidamente me lembrei de todos os tumultos e angústias que o Jorge me faria sofrer certamente, se me apanhasse na cama com a irmãzinha. Levantei-me rapidamente e vesti-me. Acordei-a com um beijo, para me despedir.
-Vais-te já embora?-Perguntou ela, enquanto se encolhia para se aquecer.-Não podes ficar mais um pouco?
-Se o teu irmão me encontra mata-me. Para além de que eu fiquei de me encontrar com ele para estudarmos para o exame de filosofia.
-Pronto, já percebi que não te vou conseguir dissuadir. Vai-te lá embora...
Despedi-me com o beijo mais apaixonado de toda a minha vida. Na verdade, aquele beijo resumiu toda a minha vida. Depois dele pensei uns segundos se o Jorge e o exame valiam a pena ir-me embora, tendo que admitir que sim, infelizmente.

sábado, dezembro 03, 2005

Febre de sábado á noite (2)

Telefonei-lhe na noite seguinte. Estava constipado devido á natação do dia anterior.
-Matilde?
-Olá.
-Olá. Queria convidar-te para jantar hoje.
-Gostava muito.
-Óptimo. Queres descer então? Estou aqui á frente de tua casa.
Ela abriu rapidamente a porta, com um gesto desajeitado. Quase tropeçou. Estava com uma uma blusa de alças vermelha e uns calções de ganga curtos. Estavam 12º negativos
-Acho que vou vestir alguma coisa mais quente.
-Tem mesmo que ser?-disse olhanda para as suas pernas.
Ela sorriu e disse-me para esperar na sala de estar.
Era um bonito vestido. Se fosse só o vestido...a irmãzinha do Jorge...Quem diria.
Levei-a a um restaurante na Avenida da Liberdade. Janelas enormes e tantas velas. Risotto com salmão para mim e para ela.
-Estás a estudar?
-Estou. Estou em humanidades. Quero escrever romances.
-Deve ser fabuloso.
-Eu gosto...e tu? O que fazes?
-Muita coisa. Não sei o que escolher. Talvez representar.
-Deve ser fabuloso.
-Eu gosto.
Ela era tão diferente da Rita.
Levei-a a casa. Mal nos aproximamos ouvimos a música que nela existia.
-Não vale a pena zangar-me com o meu irmão. Vamos dançar?
-E se ele nos vê?
-Ele há-de ter outras coisas em que pensar.
Dançámos a noite toda. Até na altura em que já ninguém dançava. Até na altura em que já ninguém lá estava.
-Estou demasiado cançada.
-Eu também. Já é tarde, tenho que ir.
-Gostei imenso de estar contigo esta noite.
-Também eu.
Ela despediu-se com um sorriso. Ela despediu-se com um beijo.
Fiquei algum tempo a olhar para a porta antes de me ir embora.

quinta-feira, dezembro 01, 2005

Febre de sábado á noite.

Um frio de morrer. As pontas dos dedos estavam geladas. A ponta do nariz estava gelada. Sorriu com metade da boca. De dentro da casa vinha uma música dançavél, electronica. Muita gente, gente demais. Todos os seus amigos com um copo na mão, uma rapariga na outra. Nas suas mãos estava um vodca com wisky, corantes marados e gelo picado. Chapéu de palito na borda. A praia estava vazia á noite, e no entanto era a única hora em que ele lá estava. levantou-se com as duas mãos e bebeu o coktail marado de um trago. Viu a irmãzinha do melhor amigo. Irmãzinha quer dizer...tinha já 16 anos. Já não mercia o diminutivo, pelo menos não pela idade.Ela olhava o mar como quem o vê. Como se não estivesse escuro e ela o conseguisse enxergar. Matilde, julgo eu...
-Matilde?
-Olá.
-Olá. Não sabia que estavas cá.
-Esta casa é dos meus pais. O Jorge ( o seu melhor amigo, e o irmão dela) deve achar que é só dos dele. Mandou-me embora. Acha que sou demasiado nova para tudo isto.
(Disse "tudo isto" de uma maneira que mostrou que falava mais de rapazes do que de dança e alcool.)
-Não sabia. Não concordo com ele. Nós os dois com a tua idade já fazíamos "tudo isto" sempre que podíamos. Embebedamo-nos uma vez, depois passámos a ter mais cuidado. Temos 19, já não fazemos engates de uma noite.
-Fala por ti, o meu mano parece estar bem activo nesse campo(rapariga numa mão, cerveja na outra. Era ruiva e de cabelo comprido. Nunca a tinha visto antes.) Tu é que estás sozinho. A Rita está fora?
(A Rita era sua namorada antes de acabarem uns dias antes. Ela era a razão de ele estar lá. Nunca se deu bem com separações e queria ver se a esquecia)
-Eu e a Rita já não estamos juntos. Acabámos há uns dias.
-Desculpa...não sabia.
-Não faz mal, não podias saber.
-Queres ir nadar? Não há nada melhor do que nadar aqui á noite. Falo por esperiência própria.
-Porque não? Já estou farto desta festa.
Ficaram os dois com as roupas ensopadas, mas a noite foi memorável.