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Ah ok

O sítio onde me beijas -aqui, no ombro esquerdo ainda não dói beija-me outra vez

terça-feira, fevereiro 28, 2006

Versos (soltos)

Tu és versos (soltos)
suspiraste, morreste um pouco
morreste um pouco mais
Apenas pelos teus suaves lábios

Tu és versos (soltos)
dançavas mal, não dançavas
na pista de dança (perdida)
Apenas as luzes te confundiam

Tu és versos (soltos)
Nunca amaste nada de especial (apaixonavas-te)
Apaixonei-me, dizias tu
Apenas nunca soubeste a palavra amo-te

Tu és versos
(soltos)
Farpas da cruz de cristo
(espetadas no meu pé)
Balão de palhaço
(em forma de espada)
Apenas Deus e o Diabo
(na mesma gaveta)

segunda-feira, fevereiro 27, 2006

Banco de jardim 6 (porra)

Escrevi um poema sobre ti. Escrevi-o no nosso banco.
-No meu e no teu.
Escrevi-o com corrector branco. Escrevi-o com as nuvens que um dia acompanharam o nosso café.
- O meu e o teu

Olhaste-me com os teus olhos
Nostálgicos por algo que desconheces
de um pai que nunca viste
que nunca ouviste, que nunca leste

Olhaste-me com os teus olhos, tão triste
No entanto, só eles
Os teus lábios sempre sorriram
com energia, lábios histéricos

Olhaste-me com os teus olhos, inventados
não descobertos
Não que mentissem, apenas se lembravam
Um pai que nunca viste (ouviste, leste)

Apenas se lembravam
era um segredo que só eles sabiam
olharam-me, tão tristes
sussurraram-me o que tu desconheces

Leste este poema com uma indiferença brutal. Com os olhos, devagarinho, fizeste todas as nuvens escritas desaparecer. Já não eram nuvens, mas corrector branco.
-Apenas corrector branco.
Juro que nesse dia tentei fazer-te sorrir. Tentei fazer-te sorrir. Porra, eu menti. Disse que tinha feito o sol a pensar em ti. Disse que achava que a luz ficava bem com a tua pele. Disse:
-A luz fica bem com a tua pele.
Porra, eu menti para te fazer sorrir. Tu apenas inspiraste. Tu apenas suspiraste e deste comida aos pombos. Eu disse que te amava porra. Tu disseste que eu
-Aborreces-me e eu vou-me embora
e nunca mais irias voltar. Tu nunca mais irias voltar
-Como é que podes ir? Como é que podes oferecer-me o mundo (a vida eterna) e depois ir? Como é que podes cuspir o paraíso na minha cara? Como é que podes escarrar o paraíso na minha cara? Isso, é isso que tu és! Escarra paraísos!
Franziste o sobrolho. Apenas franziste o sobrolho e foste-te embora. Eu gritei
-Escarra paraísos
pela minha pele. Chorei tanto.
Chorei apenas um pouco mais.
Eu gritei
-Desculpa
pela minha pele. Desde então que tenho vivido neste banco. À dez anos que passo os dias e as noites neste banco. À tua espera, a tentar recolher o que resta de ti.
Lixaste-me a vida.
Desculpa.
Puta.

O seu nome, verdadeiro

Lençois húmidos
(algodão doce suado)
A tua boca aberta, semi-aberta
olhos fechados (semi-fechados), Num:
"amanhã tenho de trabalhar cedo"

Rádio Ligada
(beatles murmurados, sussurados)
No romance do SEXO, chocolate quente na caneca
Sentado na cama , a olhar para ti, Num:
"Sexo é chocolate quente, caneca colada nos lábios"


Luz Acesa
(Pôr do sol tardio)
Depois de gritos e gemidos, *No romance do sexo*
Os teus dedos Rubros, suaves sentem a minha perna, Num:
"Sexo é chocolate quente, nós somos poeira das estrelas"

sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Banco de Jardim 5 (horizonte)

Nós tínhamos sonhos. Tu e eu sonhavamos com o nosso horizonte. Um linha em que eu e tu nos uníssemos. Uma linha só nossa. Um segredo. Nós tentámos fazê-la.
-Lembras-te?
Com luzes de neon. Mas não ficou certo. Não parecia certo. Porque as luzes tinham que estar ligadas á ficha eléctrica. Porque senão, apagavam-se. Um horizonte escuro.
Pensei em pintá-la
-Tu ajudaste-me.
Usámos uma enorme tela. Dividimo-la em dois e cada um pintou metade. Tu desenhaste-me na tua
-E eu desenhei-te na minha, lembras-te?
A tela não chegou. O mundo era demasiado grande para o tamanho dos nossos pinceis. A tela não chegou, o neon apagava-se. Concordámos que
-Essa linha não pode ser criada, mas sim descoberta.
Porque nem luzes de neon nem tintas acrilicas (ecolines, aguarelas, guaches, pasteis, não interessa) poderiam criar uma linha mágica. O nosso horizonte.
-Essa linhas não pode ser criada, mas sim descoberta.
Nós nunca fomos apenas duas pessoas. O que estava entre nós era o nosso amor. Ele teria de ser capaz de criar uma linha. Amor doentio. Nós nunca fomos dois amantes normais. Inclassificaveis. O nosso amor ardia madeira, embebedava cães. Poderia concerteza criar uma linha. Teria de andar por aí. Teríamos de a encontrar.
Foi passado um ano de termos esta conversa que eu percebi onde estava o horizonte. Apenas passado um ano descobri (percebi) o que ele era.
-Estranhos símbolos em campos de trigo apareceram no dia em nos conhecemos ,na República Checa.Linhas. Círculos quadrados. Círculos e quadrados. Símbolos.
Estavas sentada no banco e deliraste. Quando te disse que esses símbolos poderiam ser o nosso horizonte, deliraste.
-Claro, tem de ser. O nosso horizonte não é como o da terra e céu. O nosso horizonte é ácido, loucura, vodka puro, vitrais de igreja, paixão. Não é simples ilusão óptica, mas realidade complexa. Nunca tal poderia ser linha. Tem de ser um símbolo nosso. Um símbolo louco. Temos de ir lá.
Tínhamos de ir lá. Planeamos com mapas, da terra, das estrelas. Tabelas de companhias aérias. Sonhámos ir lá, um dia esqueceste-te.

quarta-feira, fevereiro 22, 2006

Banco de jardim 4 (Pôr-do sol)

Passaram cinco dias até o sol se pôr decentemente no nosso jardim. No nosso banco.
Nós, no nosso banco, somos espectadores de Lisboa. Não a Lisboa dos fados, dos filmes antigos, mas a verdadeira Lisboa. Carros a passar á velocidade de anjos sem asas. Prédios, obras na estrada. Uma banca de jornais coberta de um enorme manto plástico, transparente (mesmo que não chova). Dois velhotes. Boinas escovadas, camisas por dentro das calças. Um grupo de rapazes e raparigas. A rirem-se histericamente.
Quando o sol se pôs no nosso banco, os carros não passaram.
Os prédios desapareceram.
A banca de jornais fechou.
As boinas escovadas, as camisas por dentro das calças, os risos histericos. Tudo desapareceu.
Apenas por um momento, tudo desapareceu. Tirando nós. Eu contei as nuvens no céu. Contei-as alto, para ouvires. Apontei-as e disse cada nuvem, neste momento, vive um pouco mais. Acho que é por nossa causa. Acho que é por nos amarmos. Beijaste-me com tanta força, que eu sorri. O primeiro beijo da minha vida. Deixaste-me feliz em ti. Histérico. Fiquei feliz para sempre, enquanto o beijo durou. Disseste que me ias amar para sempre ( enquanto os nossos beijos durassem). Ficámos abraçados. Ficámos até Lisboa voltar. Até tu te ires embora. Eu apenas fiquei.

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Banco de jardim 3 (Um conto de uma noite de verão)

Lembro-me do dia em que descobri a tua cara. Estávamos sentados no banco a treinar um diálogo para uma peça de tatro que ias fazer. Ainda agora me lembro o que era. Um sonho de uma noite de Verão. Shakespeare. Eras Hérmia. Tinhas um diálogo com Demétrio impossível. Eu ajudava-te. Fazia as falas dele e ouvia-te. Sobretudo ouvia-te e olhava-te. Sempre foste uma excelente actriz. Estavas entusiasmada nesse dia.
-Condeno-te, sim, condeno
que menos posso eu fazer
a quem me fez padecer
as cruas ânsias que peno,
se é certo, como receio,
que ao meu lisandro querido,
quando o viste adormecido
ousaste rasgar o selo?
Foi pouco o sangue espalhado
Só te chega ao tornozelo

O resto não ouvi. Devia, envergonho-me disso. Mas a culpa é tua. Tua e dos teus lábios zangados. Finos e leves. Foi nesse dia que notei neles. Na maneira como representavam. Os teus lábios. Os teus lábios sozinhos representavam melhor que qualquer actor de novela.
Sussuraste para mim e eu vivi um pouco mais:
-Agora és tu...
Eu li as minhas falas. Não representei e os meus lábios não dançaram, como os teus.
Quando acabámos, perguntei-te:
-e se escrevêssemos as falas neste banco?
-Para quê?
-Eu sempre achei que escrever é a melhor maneira de decorar algo.
-Mas porquê no banco?
-Eu não tenho papel nem caneta. Mas tu tens um porta-chaves/canivete suíço.
-pois...ok
Demorámos uma hora e pouco a escrever tudo. Mas verdade seja dit, o banco ficou muito melhor.

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Banco de jardim 2 (os pombos)

Foi neste banco que nos conhecemos 10 anos atrás, no tempo em que tu usavas elástico no cabelo e eu umas calças rasgadas na bainha. 10 anos atrás, enquanto davas comida aos pombos. 10 anos atrás, enquanto estavamos sentados neste banco, eu observava-te.
-Não tens idade para dar comida aos pombos.
-Eles não notam.
Sorri.
-Desculpa, não queria ser chato. Apenas não estou habituado a ver alguém da minha idade a dar-lhes comida. Normalmente são velhotes ou miúdos.
-Não faz mal. Foi a minha avó que me pediu. Ela não podia.
-É simpático da tua parte.
Olhaste-me se agradecesses com os olhos. Sorriste-me como se agradecesses com o sorriso. Quando o saco de comida ficou vazio, escreveste nele o teu número de telemovel.
Eu dobrei-o e pu-lo no meu bolso das calças.Vi-te ir embora, lentamente. Lentamente fiquei a olhar para ti, sentado á espera. Quando os pombos acabaram de comer e o teu cheiro desvaneceu do ar. Fiquei apenas. Desta vez, já não estava á espera. Estava apenas a pensar em todas as coisas que me disseste. Em todas as coisas sem sentido, todas as palavras ditas ao acaso.
"Eles não notam"
Repeti esta frase milhares de vezes na minha cabeça. Á espera que tivesse um significado louco, escondido numa figura de estilo marada.

quinta-feira, fevereiro 16, 2006

Banco de jardim (o início)

Tenho pensado muito em ti
Na maneira como o teu sorriso me deixava feliz. No que eu fazia para tu sorrires. Estou agora sentado no banco de jardim e lembro-me de ti. Apenas porque nos sentámos neste banco. Apenas porque vivemos um pouco mais neste banco. Porque foi neste banco que escreveste um poema. Disseste que era para mim. Escreveste-o no assento de madeira com o teu porta-chaves/canivete suiço.
"Por um momento disseste os teus olhos castanhos são feitos de restos de estrelas
Por um momento, apenas um momento
disseste os teus lábios são tudo aquilo que impede os nossos corpos de se unirem num só
e o momento durou um pouco mais"
Já não consigo ler o poema, escrevi-o de memória. No entanto a memória parece-me mais real que a minha vida hoje. Já não consigo ler o poema, escrevi-o de memória. Apenas porque quando tento, sinto o teu cheiro. Impossível de descrever. Mais ninguém poderia cheirar assim. Era um cheiro indicado para ti. Perfume? Nunca um perfume poderia ter o teu cheiro. Como se anjos tivessem feito amor. Cheiravas ao amor dos anjos, talvez seja o mais aproximado. Ao mesmo tempo tão virginal e tão incrivelmente sensual. Às vezes aproximo a cara deste banco, apenas para tentar senti-lo. Apenas para tentar sentir o teu cheiro, entranhado na madeira. Porque quase que juro que sinto.Porque quase que juro que ainda consigo ver a marca que o teu corpo fez na madeira. Não pelo peso, mas pelo uso. Pelo hábito.
Ás vezes, fecho os olhos e imagino-te sentada neste banco. Da maneira como te sentavas sempre. Algo tão teu (marca registada) que nunca ninguém conseguiria imitar. No entanto, tão natural em ti. Como se estivesse apoiada numa almofada invisível. Sentavas-te torta, mas com orgulho. Usavas umas t-shirts demasiado curtas. Nunca gostei de as ver nas outras pessoas. E apesar de gostar em ti, disse-to muitas vezes.
-Rapariga, com essas t-shirts não deixas nada para adivinhar.
-Não quero ver ninguém a tentar adivinhar-me.
Mas ficavam-te bem. Tinhas ombros largos e seios grandes, mas eras magra de cintura. Não tinhas um grama a mais. E quando tinhas, ninguém se atrevia a dizer-to. Tu não te preocupavas com quilos a mais. Nunca fizeste uma dieta marada. No entanto, se alguém fazia qualquer referência ao teu peso, não lhe falavas durante dias. A tua mãe fazia-te constantemente, de uma maneira sempre demasiado directa.
-Estás gorda, come menos.
Nunca estavas, ao contrário da tua mãe. Mas ela parecia ter este prazer em dizer-to.
As tuas pernas sim, eram um pouco largas. Eu, na verdade, nunca as quis diferentes. Queria-as exactamente como eram.
Usavas um elástico no cabelo. Quando o usavas, fazias como uma flor com o cabelo. Como se tivesse petalas. Como se tivesse folhas. Algo acontecia no teu cabelo. Algo que nunca pertenceu a este mundo, e ao qual apenas eu dava importância.

terça-feira, fevereiro 14, 2006

O Fim do mundo

Foi nessa tarde de Verão que as folhas começaram a ficar azuis e o céu a ficar vermelho. Apenas notei porque estava deitado na relva e olhei para uma folha de carvalho. A tonalidade era de um verde azulado. Olhei para o céu e as nuvenstinham veios laranja e o sol ainda não se punha. Comentei contigo. Tu, distraida, não ligaste e disseste tudo muda, não penses mais nisso. Tu sempre estiveste distraida.
No dia seguinte o céu estava já completamente vermelho. Não interessava que parte do céu. Junto ao horizonte estava tão vermelho como no topo do céu. Como se tivesse perdido qualidade de imagem.
Disseste que era por ser verão.
As folhas estavam já completamente azuis. Como pedaços de mar, soltos nas árvores. Completamente azuis, sem sombras. Apenas azul. Nada de romantico. Como se tivessem perdido qualidade de imagem.
Disseste que eu estava obcecado.
Estavamos os dois deitados na relva azul. Um senhor tocava um piano de cauda ao pé de nós. O pianista tinha a cara desfocada e tocava canções tristes. Tocava-as só para nós. Apenas nós estávamos naquele jardim. Nós e o pianista de cara desfocada.
Nós, na relva azul. Parecia que boiavamos.
Disseste está um dia lindo.
Lancei-te um olhar desconfiado. Sobrancelhas franzidas. Lancei-te um olhar desconfiado e disse não posso acreditar em ti. Chovia intensamente e tornados destruiam tudo ao nosso redor.
Olhei para a tua face e estava a ficar amarela. Apenas nessa altura percebi o que estava a acontecer. O mundo estava a desaparecer rapidamente. A perder qualidade de imagem e a acabar.
Sentei-me no chão á espera que eu próprio mudasse de cor.

Dança

Perguntaste-me se queria dançar num dia de inverno. Sozinhos: Tu e Eu á beira rio. A música vinha de um rádio sob uma oliveira. Apenas nós os dois, sozinhos (Tu e Eu) á beira do rio.
Respondi-te que sim. Respondi-te que sim, que dançava contigo, mas que dançava mal. Os sol da tarde queimava os nossos rostos e clareava os teus olhos. Segurei as tuas mãos nas minhas, com força. Estávamos os dois, em pé, ao lado um do outro. Deitaste a tua cabeça no meu ombro. Deitei a minha cabeça no teu ombro e fiquei a olhar para o teu cabelo. Tinha-lo solto, pendente nas costas.
Dançámos os dois (Tu e Eu) com o sol a queimar os nossos rostos. Disse amo-te.
Levantaste as sobrancelhas e sorrista ternamente.
Disseste desculpa. Disseste desculpa, mas eu não te amo.
Ficámos calados por uns momentos. Ficámos caldos por não termos nada para dizer um ao outro(Tu e Eu).
Tive medo. Tive medo e disse não faz mal. Disse é suficiente eu amar-te. Pensei: Como poderia ser possível tal coincidência, duas pessoas amarem-se. Era preciso que entre todas as pessoas no mundouma se escolhesse à outra. Tive medo e disse não faz mal (Tu e Eu).

quarta-feira, fevereiro 08, 2006

As colinas

Penteaste o cabelo como se não te interessasses
E eu acreditei, porque o sol mentiu contigo
Carolina, tu disseste
que as colinas eram demasiado verdes

Olhaste os meus olhos como se procurasses algo
Porque os meus olhos nunca te amaram como eu
Carolina, tu disseste
que a culpa não era minha, as colinas é que eram demasiado verdes

Suspiraste para o infinito como se estivesses chateada
E eu acreditei porque o infinito suspirou contigo
Carolina tu disseste
que eu nunca te amei, mas que a culpa não era minha

as colinas é que eram demasiado verdes
Eu acreditei e deixei-te ir com ele
Porque as colinas mentiram contigo

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Sonho (2)

quinta-feira, fevereiro 02, 2006

Sonho

Nunca ninguém viveu naquela cidade. Já lá morreu muita gente, mas nunca nenhum deles lá viveu. Apenas morreram, desde o dia em que nasceram. A cidade é magnífica. Vivendas de madeira branca e telhado de xisto, cobertas de musgo. Cobertas de trepadeiras. Não que a população fosse desleixada. As casas estão sempre aspiradas, varridas. Eles apenas gostavam de plantas.
Se um dia precisarem de encontrar a cidade não a encontrarão. Porque esta cidade ninguém encontra no mapa. Na realidade. Esta cidade é um local que um grupo de pessoas visitam no sonho. Visitam-na sempre que dormem, desde o dia em que nasceram. Uma cidade sonhada por poucos, habitada por todos os que já sonharam com ela.
Eu sonhei com a cidade vinte anos atrás. Tinha acabado de sair de uma festa, estava bêbado. Adormeci numa rua mal iluminada, na calçada da rua. De repente surgi na cidade. Estava deitado no chão e levantei-me. Vi um miúdo pequeno a olhar para mim e a comer um gelado de chocolate.
-Não devias estar aqui. O que é que estás aqui a fazer?
-Desculpa?
-Tu não podes vir para a cidade só com a tua idade. Tens de sonhar com ela desde sempre.
-Onde estou?
-Estás a sonhar com a cidade.
O rapaz entrou dentro de uma casa. Todas as casas naquela rua eram iguais e tinham todas o número 7. De dentro delas ouviam-se susurros. Encostei a orelha a uma e percebi que não eram susurros, mas gritos de mulher ao longe. Bati á porta e atendeu um homem de máscara.
-Boa...não devias estar aqui.
-Porque é que toda a gente diz que eu não devia estar aqui! É só um sonho!
-Porque as pessoas que sempre sonharam com esta cidade morrem todas as noites, quando aqui estão. Tu nunca sonhaste com a cidade. Nunca mais sonharás. Em vez de morreres quando dormes, vais passar a morrer acordado. Terás sempre vida em ti, mas estarás a morrer. As tuas mãos vão tremer e vais tossir sangue. Não te invejo.
-Estás a exagerar concerteza. Isto é só um sonho!
Ele sorriu amávelmente e despediu-se. Ele tinha razão.